Mês 2 (dois) em Nova York

Neste último ano venho escrevendo sobre meu processo de mudança do Brasil para os Estados Unidos. Diante de tanta coisa nova e desse choque de realidade, pensei em me aventurar um pouco na escrita. Por isso, entrei para um curso de crônicas e a ideia é escrever um pouco - num estilo cômico porque "rir é o melhor remédio", as coisas que tenho observado e vivido na Big Apple. Então vou expandir um pouco, pelo menos por enquanto, o uso deste caderno/ blog e, além de um diário de leitura, vou publicar também essas tentativas de crônicas.

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Desde que me mudei para Nova York, nunca fui tão esperançosa. Tenho vivido no limite o ditado “a esperança é a última que morre”. Só que toda vez, no fim, eu só insisti no erro. Quem nunca? A gente até pode adiantar o problema e aquela desconfiança escondidinha lá no fundo da mente diz que vai dar merda, mas, como a esperança é a última que morre, a gente vai lá e faz.

Primeiro foi a roupa na secadora. Quantas vezes a gente já não viu em filme e seriado norte-americano o coitado que colocou a roupa na secadora e ela saiu encolhida? No Brasil não tinha isso. Secadora, em terras tropicais, é luxo luxuosíssimo. Do varal, a roupa saía sempre perfeita. Às vezes, era o uniforme escolar que passava a noite atrás da geladeira quando fazia muito frio e a gente precisava dele para a manhã a seguinte, mas isso nunca foi problema. Agora aqui em Nova York, eu não tenho varal, tenho secadora. Fiquei mais chique (!), pensei. Lavei, saquei, dobrei elas ainda quentinhas, dei aquela olhada atenta, espremendo os olhos e... Perfeito! Até o marido vestir seu jeans escuro e ver suas canelinhas de fora no espelho.

Depois aconteceu o alarme de monóxido de carbono. Nada mais nobre do que um sensor que dispara para evitar incêndio, mas ainda não sei como conciliar esse recurso que evita tragédias com a minha carninha grelhada. Na primeira vez, junto com o alarme, disparou meu coração. Como eu iria saber? Apartamento antigo, não tem exaustor e a janela aberta não foi suficiente. Na minha cozinha brasileira, também não tinha exaustor. Tinha fumaça? Sim, mas, de novo, isso nunca foi um problema. Na segunda vez, fritei o bife com um ventilador apontando para a panela. Como uma artista de malabares, a mão direita segurava o pegador que virava a carne e a mão esquerda segurava o ventilador. Na terceira vez, bateu uma preguiça e fui confiante. Dispensei o ventilador. Pois é, o alarme disparou. Agora estou considerando entrar para o movimento Segunda Sem Carne antes que os bombeiros batam aqui na minha porta.

Também teve a vez da pia da cozinha. Morei em algumas casas alugadas no Brasil e fosse a pia de inox ou de pedra, elas tinham uma borda que impedia que a água caísse no chão. Mas aqui em Nova York, isso não existe. A pia é reta. Nas primeiras vezes, me convenci que “ia dar nada”, mas lavar a louça se tornou uma inundação constante da cozinha. Descobri nas lojas um paninho de pia profissionalizado: ele tem o formato de um mini tapete e promete absorver toda a água da louça que escorre. Inteligente, se ele aguentasse o tranco e não vazasse depois da terceira panela.

Mas complicado mesmo tem sido o tempo de locomoção. Em São Paulo, eu já dominava as ruas e trajetos melhor que a moça do Waze. Sabia qual seria o melhor caminho – bairro ou avenida?, horário, dia da semana e meio de transporte para chegar a qualquer ponto. Ainda tinha a pachorra de olhar no Google Maps e pensar “ai ai... deixa eu te ensinar aqui que eu sei outro caminho melhor”. Agora aqui nas ruas nova iorquinas, não importa a hora que eu saia ou o quanto eu fique torcendo para que não haja problemas, alguma coisa vai acontecer. O metrô vai demorar, o taxi não vai passar, o prédio do elevador vai estar congestionado, ou simplesmente nada acontece e eu ainda estou atrasada sem entender por quê! É só olhando para o relógio e percebendo que “É. Não vai dar tempo mesmo. Vou chegar atrasada e paciência!” que a esperança, que é a última que morre, morre de vez. E chego lá com cara de paisagem, diva, me fingindo de completa desentendida. 



Dia 1 em Nova York. Times Square. Julho de 2021. 

3 comentários:

  1. Eu amei! Os dois primeiros são os clássicos dos filmes americanos, se você não passasse por isso nem ia valer sua vida nos EUA! kkkkkk
    Por favor, faz mais desses. Eu não nunca te pedi nada....

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  2. Oie ! O verdadeiro perrengue chique hahaha, eu adoro saber sobre essas coisas, que a gente pensa ser igual em qualquer lugar do mundo e é totalmente diferente, igual tomada, gente pra que cada país tem uma entrada diferente, desnecessário kkk
    www.blogresenhando.travel.blog

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  3. Seu antigo seguidor está aqui para parabenizar sobre a postagem e convidar para também botar a boca no mundo, quanto ao conteúdo do nosso blog HUMOR EM TEXTOS: "Queremos menstruar, queremos menstruar, queremos menstruar!!!".
    Passamos de todos os limites.
    Um abração carioca.

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