Infância - Graciliano Ramos

No colégio, quando a professora de literatura fez uma breve definição das obras de Graciliano Ramos, ela disse que "em uma página, temos informações demais", pois ele era um autor que sabia ser bastante conciso, direto e dizer muito com poucas palavas. Isso me impressionou, e a partir disso sabia que eu e ele nos daríamos muito bem. Minha primeiraexperiência foi com Vidas Secas, amei, me apaixonei, me encantei. Depois, fui ler Memórias de um Cárcere, mas por causa da burocracia da biblioteca, só consegui ler 80 páginas e pretendo retomar a leitura. Mas a última obra que li de Graciliano foi Infância.

Foi uma experiência bacana e um pouco diferente das leituras comuns. Aquela idealização infantil, de que quando a gente era criança era bem melhor, isso não existe no livro de Graciliano. Por mais que seja um livro bastante recheado, é difícil dizer algo sobre ele. A leitura é calma, fluída, mas há momentos em que somos tomados por uma agonia imensa, como quando seu pai não encontra a fivela do seu cinto.

O autor também fala sobre a sua dificuldade em aprender a ler e como nasceu o seu amor pelos livros. Aos 9/10 anos, já tinha devorado a biblioteca de um de seus conhecidos, lendo grandes clássicos da literatura internacional.

Mas a melhor parte é o final. É claro que não contarei spoiler, mas durante a leitura do livro, nos perguntamos quando e como vai acabar essa fase infantil do autor, e quando isso acontece, sua visão e percepção de mundo muda também.

É um livro gostoso, não há emoção, suspense ou trama. Cada capítulo conta sobre uma determinada pessoa ou um momento que lhe marcou. É possível também entender um pouco das relações sociais citadinas do nordeste brasileiro. A profissão de seu pai, um mercador, os obriga a mudar e a diferença entre campo/cidade também é bastante visível.

A conclusão que cheguei ao virar a última página foi a de que uma infância nem sempre é feliz como é relatado no poema de Casimiro de Abreu

"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!",

mas sim doída, traumatizante, e que, na verdade, só esconde um mundo cruel, que por sebrevivência só podemos compreendê-lo depois; para que na idade adulta, lembremos de um momento melhor, mesmo que ele nunca tenha sido bom.