Os "sampaulistas"

São Paulo no período colonial foi uma grande especificidade. Não havia monocultaras de cana e alta produção de açucar, nem um intenso tráfico de escravos. As famosas casas grandes e senzalas que aprendemos na escola são característicos das capitanias do atual nordeste brasileiro. O único momento colonial paulista que vemos no ensino regular é sobre os bandeirantes. Apesar de esta visão estar mudando, ainda em São Paulo estudamos os bandeirantes pela sua importância no desbravamento do sertão, sendo encarados como heróis, sendo este o motivo por tantas rodovias terem os nomes destes personagens. Entre as mais famosas: Rodovia Fernão Dias, Anhanguera, Raposo Tavares e a Rodovia dos Bandeirantes.

Mas São Paulo tem algumas especificidades que valem a pena ser analisadas melhor. Especificidades estas que ligam a região do planalto paulista e o tão importante nordeste produtor de açucar.

Os tais bandeirantes, antes de assumirem propriamente este papel, eram conhecidos pelo resto da América Portuguesa por "sampaulistas" e eram encarados como uma gente estranha, que vivia no meio do mato. Isso acontecia porque os habitantes do planalto paulista "caçavam" indígenas e disso viviam além de um dificultoso comércio de produtos de subsistência realizado na serra entre o planalto e o litoral, que possuía alguns poucos engenhos de baixa produção de aguardente e rapadura.

Para terem sucesso em seus aprisionamentos de indígenas, os paulistas tiveram que aprender com os próprios índios. Despreparados, os portugueses eram facilmente mortos pelos índios que usavam métodos de guerrilha. Acostumados com o terreno e grandes conhecedores da fauna e da flora, sem serem vistos, se moviam e atiravam flechas em seus adversários por cima das árvores. Assim, os paulistas. adotando seus métodos, aprenderam com eles a se moverem e a lutarem na "selva" tropical.

Lá no Nordeste, quando o quilombo dos Palmares chegou num ponto de ameaça à soberania do Estado português e à ordem escravista e na capitania do Rio Grande (hoje Rio Grande do Norte) estoura uma rebelião indígena dos antigos aliados dos holandeses, chamar os "sampaulistas" foi uma alternativa que se mostrou mais eficiente para acabar com tal "desordem". Comprar esse serviço não era barato. Domingos Jorge Velho foi chamado para cuidar destes dois eventos em troca, é claro, de terras para virar um grande senhor de engenho. Este era, afinal, o sonho de todos os paulistas que viviam no meio do mato caçando índios: ser um grande senhor de engenho.