Ismália

Muitos já sabem da minha opinião sobre poesias. Nunca os entendo e nem consigo fazer um comentário se quer sobre eles. Porém, há alguns raros poemas, perdidos pelas páginas dos livros de literatura do Ensino Médio, que me enncataram e, mesmo depois de algum tempinho, eu não os esqueço e relê-los é sempre um prazer.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava perto do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

(Alphonsus de Guimarães)

A sociedade democrática mineradora

Faz muitíssimo tempo que eu não frequento do blog, quase um mês... Não vou tentar me justificar, mas houve algumas semanas em que minha opção em História me desanimou muito e me fez arrepender significativamente desta escolha que comecei a achar que não foi das mais certas. Mas enfim, como meu querido amigo Hermes disse "o jeito é continuar", tarde demais para se arrepender. Porém, a nota de corte este ano da FUVEST caiu muito em alguns cursos, e com certeza teria passado em algum outro curso, pelo menos na primeira fase. Enfim, juntando-se a isso, é fim de semestre: provas e entrega de trabalhos, e uma dessas provas quase representou o estopim para eu desistir do curso, mas foi a gota d'água para eu chegar em casa deprimida: eu, que havia estudado tanto, que nunca faltei uma única aula e que amei o curso do começo ao fim, fui pior na prova do que quem tinha menos interesse em nota. Bom, fazer o que? "O jeito é continuar."

Mas deixe eu mudar de assunto porque nunca criei o blog com a intenção de chorar minhas máguas. Tenho meu psicólogo particular e isso me basta.

Ontem, sem planejar e quase sem querer, comecei a ler O Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Peguei o livro e só folheei para achar alguma parte que tivesse como tema de fundo a disputa pela terra. Falhei nesse objetivo, mas comecei a ler e por volta de uma hora já tinha acabado. Muito bom! Quem nunca o pegou para ler é uma ótima recomendação. O filme não fica para trás, mas ele é mais "recheado" de histórias e personagens. O Auto da Compadecida é uma daquelas histórias que você lê rindo! Foi uma leitura muitíssimo prazerosa.

Para não acabar o post somente com essa mensagem muito pessoal, colocarei aqui uma das duas repostas que fiz para a minha prova de Brasil Colonial, não, sem antes, dar uma breve introdução ao tema.

É muito comum sermos ensinados nas escolas e nos cursinhos pré-vestibulares que a sociedade mineradora foi muito mais democrática que a sociedade açucareira. Lembro ano passado o meu professor de história do Brasil fazer um quadro na lousa para comparar estes dois momentos distintos da história brasileira. Pois bem, uma historiografia mais antiga, representada inclusive pelo Sérgio Buarque de Holanda, diz quase que exatamente isso: a sociedade mineradora permitia uma maior mobilidade social, todos trabalhavam, as ideias de civilização influenciadas pelo iluminismo circulavam com uma facilidade muito maior... Porém, uma historiografia mais recente tem contestado isso, como está escrito mais abaixo. Se havia uma maior democracia isso aconteceu por baixo, ou seja, todos eram muito pobres, todos dividiam a mesma pobreza, e se houve uma possibilidade de mobilidade social como era dito, foi uma parcela muito significativa dos que conseguiram acumular riquezas e mudar a situação de vida.

Na prova, haviam três trechos de obras que tratavam do mesmo assunto - a suposta democracia da sociedade mineradora - sob perspectivas diferentes. Eis a minha resposta abaixo sobre este embate historiográfico cuja nota ainda não recebi.

Os três trechos, tirados de obras da historiografia brasileira, apresentam duas linhas de pensamento distintas sobre o período minerador do Brasil Colonial.

O primeiro excerto, o mais antigo dos três e escrito por Sérgio Buarque de Holanda, defende a característica democrática da sociedade mineradora, em comparação com outras áreas da colônia portuguesa da América, principalmente, as zonas açucareiras. Portanto, dada essa peculiaridade das Minas Gerais, forma-se nessa região uma sociedade sui generis, muito particular diante de todo o resto da América lusitana. Este trecho representa toda uma forma de pensar a sociedade mineradora que, hoje sabemos, tem ligação com a ideologia da Inconfidência Mineira. Por ser mais democrática e civilizada, teria mais possibilidades de mobilidade social e menos escravos; as idéias das luzes teriam sido capazes de entrar nesta sociedade e fomentarem um desejo de independência; as revoltas, que começaram a surgir como forma de contestação às fiscalizações tributárias, inclusive, seriam também uma certa conseqüência desta democracia que começou a surgir na América Portuguesa no século XVIII.

Tal corrente de pensamento começou a ser contestada. Já no final da década de 70 do século passado, Jacob Gorender não atribui o grande número de pequenas explorações na região das Minas Gerais como sendo uma característica do sistema de mineração, tampouco como um predomínio econômico. Apesar de reconhecer a distinção entre as sociedades mineradoras e açucareiras, desconfia da tal mobilidade social defendida por Sérgio Buarque.

Poucos anos depois, na década de 80, Laura de Mello e Souza parece completar a idéia de Jacob Gorender, o que é mostrado pelo segundo excerto. “A constituição democrática da sociedade mineira poderia se reduzir numa expressão: um maior número de pessoas dividiam a pobreza”. Para Laura aquele grande número de pequenas explorações era conseqüência de baixos níveis de renda também mal distribuídos, ou seja, se havia realmente uma maior possibilidade de mobilidade e uma democracia social que diferenciavam consideravelmente o setor minerador do açucareiro, isso se deu por baixo, da falta de poder aquisitivo e de concentração, portanto, se houve realmente uma mobilidade social, os que enriqueceram foram uma parcela muito pouco significativa.

Na historiografia recente, reconhece-se a intenção de implantar nas Minas Gerais o sistema escravista de mais de um século das zonas açucareiras: para lavrar era necessário possuir escravos. Assim, é significativa a participação massiva da escravidão, em sua maior parte negra. Para completar, Laura aparece caracterizando a sociedade mineradora como “aberta” e não democrática; aberta pelas possibilidades que ali existiam, mas que só existiam pelos motivos enumerados acima.

Os "sampaulistas"

São Paulo no período colonial foi uma grande especificidade. Não havia monocultaras de cana e alta produção de açucar, nem um intenso tráfico de escravos. As famosas casas grandes e senzalas que aprendemos na escola são característicos das capitanias do atual nordeste brasileiro. O único momento colonial paulista que vemos no ensino regular é sobre os bandeirantes. Apesar de esta visão estar mudando, ainda em São Paulo estudamos os bandeirantes pela sua importância no desbravamento do sertão, sendo encarados como heróis, sendo este o motivo por tantas rodovias terem os nomes destes personagens. Entre as mais famosas: Rodovia Fernão Dias, Anhanguera, Raposo Tavares e a Rodovia dos Bandeirantes.

Mas São Paulo tem algumas especificidades que valem a pena ser analisadas melhor. Especificidades estas que ligam a região do planalto paulista e o tão importante nordeste produtor de açucar.

Os tais bandeirantes, antes de assumirem propriamente este papel, eram conhecidos pelo resto da América Portuguesa por "sampaulistas" e eram encarados como uma gente estranha, que vivia no meio do mato. Isso acontecia porque os habitantes do planalto paulista "caçavam" indígenas e disso viviam além de um dificultoso comércio de produtos de subsistência realizado na serra entre o planalto e o litoral, que possuía alguns poucos engenhos de baixa produção de aguardente e rapadura.

Para terem sucesso em seus aprisionamentos de indígenas, os paulistas tiveram que aprender com os próprios índios. Despreparados, os portugueses eram facilmente mortos pelos índios que usavam métodos de guerrilha. Acostumados com o terreno e grandes conhecedores da fauna e da flora, sem serem vistos, se moviam e atiravam flechas em seus adversários por cima das árvores. Assim, os paulistas. adotando seus métodos, aprenderam com eles a se moverem e a lutarem na "selva" tropical.

Lá no Nordeste, quando o quilombo dos Palmares chegou num ponto de ameaça à soberania do Estado português e à ordem escravista e na capitania do Rio Grande (hoje Rio Grande do Norte) estoura uma rebelião indígena dos antigos aliados dos holandeses, chamar os "sampaulistas" foi uma alternativa que se mostrou mais eficiente para acabar com tal "desordem". Comprar esse serviço não era barato. Domingos Jorge Velho foi chamado para cuidar destes dois eventos em troca, é claro, de terras para virar um grande senhor de engenho. Este era, afinal, o sonho de todos os paulistas que viviam no meio do mato caçando índios: ser um grande senhor de engenho.

Roteiro de leitura - M. Chauí

Nesta última semana li uma parte do maravilhoso e bastante difícul livro da Marilena Chauí. Acredito que todos conhecem essa grande filósofa, seja porque ouviu seu nome na televisão ou porque durante a escola o professor comentou sua obra. Sua linguagem é densa e pesada e por isso, realizei um roteiro de leitura de um determinado capítulo do livro: "Crítica e Ideologia". Este capítulo, que segue uma corrente materialista, é interessantíssimo e, caso eu fosse transcrever todas as idéias e conclusões tiradas, o post seria imenso. Para facilitar então, colocarei aqui apenas alguns dos quais achei mais interessante dos tópicos do roteiro. Em algumas partes, há trechos transcritos e em outras trechos de minha própria autoria.

O que se entende por sociedade propriamente histórica?
Sociedade propriamente histórica é aquela que, diferente da sociedade histórica, problematiza o tempo, sua história. Através da ideologia, faz uso de datas próprias, instituições próprias e precondições específicas para não estar no tempo, mas ser o tempo. Em outras palavras, toda a sociedade é histórica porque é temporal, porém, a sociedade propriamente histórica tematiza sua temporalidade, transformando-a em objeto de reflexão. Como conseqüência desse processo, a ideologia ganha um sentido concreto e continuamente cria internamente sua diferença consigo mesma. Essa petrificação do tempo característica da sociedade propriamente histórica, por sua vez, só pode ser alcançada pelo uso da violência e da máscara de uma identidade fixa, manejada pela ideologia.
Há um terceiro tipo de sociedade, que não se encaixa muito bem nessa classificação. É a sociedade que oferece a si mesma uma explicação que transcende a própria sociedade e assim lhe garante intemporalidade. Vista sob nosso ponto de vista ela é sim histórica, mas para ela mesma não. Encontramos essa característica em sociedades orientais, cujo tempo é encarado como cíclico e a história não é registrada, mas contada oralmente.


Exlique o conceito de ideologia como discurso lacunar
O discurso ideológico é feito por lacunas, por espaços em brancos e é graças a isso que seu discurso faz sentido. Essa coerência é o fato de que se mantém com uma lógica coerência e que exerça poder sobre os sujeitos sociais e políticos. “É porque não diz tudo e não pode dizer tudo que o discurso ideológico é coerente e poderoso”. Se tentarmos preencher os espaços em branco, não transformaremos um discurso ideológico ruim em um discurso ideológico bom, destruiremos em verdade sua condição de ideologia.


Por que a ideologia se mantém?
Uma vez que a ideologia se mantém na recusa da realidade, cabe a pergunta de como e por que ela se mantém. Em outras palavras, é preciso entender como a vida social e política oferece meios para reforçar a ideologia.
1° motivo: caráter imediato da experiência a faz permanecer esmagda no desconhecimento da realidade concreta, isto é, do processo de constituição da sociedade e da política. Ou seja, o fazer, a prática, que é feita e logo acaba, não está envolvido com seus processos mais amplos de porque’s e conseqüências, caracterizando, se eu não estiver enganada, num processo de alienação de seus agentes.
2° motivo: a ideologia oferece um “bem-estar” aos indivíduos sociais e políticos retratando uma realidade falsa como idêntica, homogênea e harmoniosa, fornecendo aos sujeitos uma resposta aos desejo metafísico de identidade e ao temos metafísico da desagregação. É uma exigência metafísica dos sujeitos sociais e políticos. A ideologia propicia uma experiência de racionalidade organizada e de lugar “natural” de cada ser humano, e é isso que dá à ideologia força total. Aqui é a primeira vez que usam a metafísica como um argumento concreto.

Café com leite

Lembro-me do melhor copo de café com leite que tomei na vida. Quantos anos eu tinha? Seis. Sete. Talvez oito. Era uma manhã de final de semana. Sábado ou domingo. Naquela época todos os dias da semana eram iguais, pouco importava se era segunda ou sexta. O mesmo acontecia com os finais de semana.


Naquela manhã, ensolarada pelo que podia ser visto da janela, o leite urbano, tirado da caixinha, tinha sido esquentado no fogão (o microondas ainda não tinha chegado a minha casa para acelerar as coisas) e colocado, juntamente com o café feito na hora, num copo americano. O leite, porém, tinha sito fervido e, por isso, não era possível tomar o café com leite preparado pela minha mãe.


Ela, portanto, na pia para não sujar a toalha da mesa, fez uso de um truque muito antigo para esfriar leites muito quente: com a ajuda de um outro copo, trocava rapidamente o líquido amarronzado de recipiente. Acredito que todos conhecem essa técnica. Por fim, o copo americano que eu usaria, foi lavado e, no copo ainda molhado, foi-me entregue o café com leite mais perfeito que já tomei. Nem quente nem frio demais. Nem doce nem amargo demais. Simplesmente perfeito.


Estou com muitas saudades desse café com leite.

7 saberes necessários à educação do futuro

Eu escrevi a composição abaixo como forma de resumo de um texto que li. Eu o achei interessante e completa uma segunda leitura que fiz anteriormente, na qual o objetivo maior da educação é não repetir Auschwitz, que foi o ponto máximo de barbárie humana. É claro que o autor usa o campo de concentração apenas como um exemplo, porque barbáries humanas são encontradas em várias outras partes do mundo com dizimações étnicas, guerras “sem sentido” e etc. A conclusão deste texto era que a civilização, para não repetir Auschwitz, só seria alcançada pela educação. A leitura abaixo, de um autor diferente, completou essa afirmação.

É de conhecimento de todos que a educação do Brasil está em crise, mas essa crise não é exclusiva brasileira e nem tão recente. Me questiono agora se este problema educacional geral é realmente a falta de educação civilizacional ou seria política, econômica e de conteúdos mais teóricos como o método de educação.


MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.


Edgar Morin nos apresenta sete saberes que, segundo ele, são ignorados e subestimados pelo ensino e pelas escolas contemporâneas. É o que ele chama de “sete buracos negros da educação” e não se tratam especificamente de nenhum nível escolar, mas sim programas que deveriam ser colocados no centro da educação para formar bons cidadãos. A grande questão que envolve todos os saberes é o de civilizar o mundo. De uma forma ou de outra, todas as suas propostas podem ser convergidas para esse único ponto.


O primeiro grande saber é sobre o conhecimento. Segundo Edgar Morin, o conhecimento é enganador e ilusório. Para ver e conhecer a realidade é preciso explorar os erros, porque só assim ela é alcançável. Erros causados por diferenças sociais, culturais e étnicos, que fazem o “pensar diferente” como anormal e até como um desvio patológico e outros erros que são causados pela camuflagem de partes desvantajosas para os interessados. Assim, percebemos o mundo através de reconstruções e traduções da realidade, dependendo do ângulo e da perspectiva que vemos a realidade; e assim como toda tradução, ela é composta de erros. “Toda tradução é uma traição”.


O conhecimento pertinente é a contextualização do que vemos como conteúdo na escola na realidade em que vivemos. O meio que ele propõe para o ensino alcançar esse objetivo é a integração das partes. O ensino fragmentado, segundo o autor, impede a capacidade natural que o espírito tem de contextualizar. Portanto, é necessário ligar as partes, porque não é possível conhecer as partes sem conhecer o todo e vice-e-versa.


A identidade humana é outro ponto significativo. Nós fazemos parte de uma trindade indivíduo-sociedade-espécie, ou seja, nós somos indivíduos que fazemos parte de uma sociedade e também somos espécie. Para não acabar com esta é necessário se reproduzir e ter filhos que serão, como os pais, educados e moldados de acordo com a sociedade em que vive. Portanto, mostrar que o ser humano que é múltiplo enquanto é parte de uma unidade, é uma educação para civilizar o planeta em que vive. Para entender essa complexidade humana, o ensino da literatura e da poesia devem ser colocadas em primeiro plano, pois são elas que convergem para a identidade e para a condição humana.


Atualmente o individualismo tem ganhado um espaço cada vez maior socialmente e o ensino da compreensão humana tem sido trocada pela egocentrismo e o egoísmo: o “se dar bem”. Os seus grandes inimigos são a redução do outro, a visão unilateral, a falta de percepção sobre a complexidade humana e a indiferença. Se auto a avaliar e compreender a si mesmo é um primeiro passo. O cinema é outro recurso que ajuda a entender e a valorizar personagens anônimos da nossa sociedade, ensinando a superar a indiferença e ver os heróis invisíveis sociais sob um outro ângulo.


A incerteza é o quinto saber indicado por Edgar Morin. Saber que o inesperado aconteceu e acontecerá é um domínio necessário a ser mostrado, sobretudo na disciplina de História. Quase nada é como se espera ou deseja. Essa incerteza não apenas fomenta a coragem, mas também age como um meio de tomar consciência sobre a dimensão que decisões tomadas alcançam, além de aprender a lidar com situações inesperadas, saber agir diante do imprevisto com o pouco que se tem nas mãos.


A condição planetária atualmente mostra que a humanidade vive um percurso de destino comum. Diferenças étnicas, religiosas e culturais são superadas diante de ameaças nuclear e ecológica, crises ideológicas e econômicas que colocam todo o mundo em risco e perigo. Portanto, é difícil conhecer o nosso planeta dada a complexidade com que diversos fenômenos estão imbricados.


A antropo-ética, finalmente, é a “tomada de consciência social que leva à cidadania, para que o indivíduo possa exercer sua responsabilidade” que tem se expressado em organizações não-governamentais, superando os problemas da moral e da ética que diferem de acordo com a cultura e as origens dos indivíduos. Tudo isso acontece diante de uma regressão democrática implicada e agravada cada vez mais pelo poder tecnológico e econômico.


Edgar Morin nos faz essa exposição numa linguagem muito simples, repleto de exemplos concretos e bastante conhecidos. Seu objetivo é unir o que hoje se encontra fragmentado, causando a invisibilidade de problemas para muitos e que a visão total da realidade seja deficiente. Isso tudo porque o próprio planeta encontra-se unido e fragmentado ao mesmo tempo, um estado de caos, que só pode ser superado através da civilização. Esta, por sua vez, só será alcançada através de uma educação eficiente que leve em conta estes sete pontos acima e que hoje são ignorados.

Arquivos em sigilo no Brasil

O historiador precisa provar tudo o que fala. Ele faz isso por meio de suas fontes documentais que são desde artigos de jornais, processos jurídicos e contratos de qualquer espécie até obras de arte como poemas, músicas, pinturas e esculturas. As obras de arte, porém gera ambigüidade e, por isso, as fontes preferidas dos historiados são aquelas encontradas em arquivos públicos. O ponto contraditório nisso tudo é que o maior problema encontrado por esses pesquisadores se encontra justamente no acesso aos documentos protegidos pelos arquivos públicos. No Brasil principalmente, isso é significativo.


É comum entre todos os países existirem leis que protegem esses documentos. Alguns, por se tratarem de problemas individuais e particulares, e outros por serem de caráter público e não correr o risco de colocar o Estado em risco, se mantém em sigilo por um determinado número de anos. Trinta, quarenta, cinqüenta anos geralmente são colocados como tempo limite para este sigilo. No Brasil, no entanto, havia uma outra lei que permitia uma única renovação deste tempo sigiloso de 30 anos dependendo da importância do documento. Quem media essa importância? O próprio governo.


Pois bem, é uma grande aspiração de todos que os documentos do período da Ditadura Militar sejam abertos à pesquisa e que, ao contrário dos nossos vizinhos sul americanos que liberaram esses arquivos juntamente com a queda do regime, nós, brasileiros, continuamos com eles em sigilo até hoje. No final do mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi implantado um projeto de lei que permitia a renovação contínua de documentos em sigilo caso fosse julgada essa necessidade. Todos esperavam um governo mais democrático com a entrada de Lula na presidência e que esse projeto de lei não tivesse repercussão. Para o espanto de todos, o que era apenas um projeto virou lei.


Semana passada ouvi que era só esperar todo o pessoal envolvido na Ditadura morrer que os arquivos seriam abertos. Isso não é tão verdade. A Guerra do Paraguai, que teve seu fim há mais de 100 anos, quando o Brasil ainda era monarquia, ainda tem seus documentos guardados sem nunca ninguém ter tido acesso a eles. Por que esse medo do governo? Que descoberta os brasileiros poderiam ter com um acontecimento de 140 atrás que poderia colocar o governo em risco? Não se sabe. E enquanto isso os diretores e responsáveis pelos nossos arquivos públicos continuam desrespeitando as leis de acesso com a ajuda de novas leis que dão todo e qualquer tipo de crédito ao sigilo forçado e vergonhoso de documentos que poderiam nos ajudar a entender muito melhor a história (não tanto recente, em consideração a Guerra do Paraguai) do Brasil.

Iluminismo na Espanha do século XVIII

É conhecimento comum a todos o fenômeno Iluminista que ocorreu na Europa que se estendeu do final do século XVII até o início do XIX. Aprendemos na escola os principais ilustrados que são em sua grande maioria franceses e ingleses e as grandes conseqüências que isso trouxe para o continente, especialmente e com grande ênfase para a França.O problema é que, apesar de ter sido um fenômeno de proporções geográficas bastante extensa, a região Ibérica teve particularidades bastante significativas.


Até o século XVI, Portugal e Espanha gozavam de um prestígio de muitos poucos. Eram os protagonistas econômica e politicamente na Europa. Dominavam os mares e extensas terras em outros continentes além do intenso comércio de especiarias entre Ásia e Europa. Mais tarde, graças às possessões americanas, eram referência em metais preciosos e no comércio açucareiro (este último, como bem sabemos, não tão monopolizado pelos portugueses).


Pois bem, em especial na Espanha, com o surgimento do Iluminismo, que surgiu e caminhou ao lado do Iluminismo francês, tinha uma particularidade. Os Ilustrados espanhóis tinham consciência de sua real ou suposta decadência (Agesta). Assim, como falar em progresso diante de uma Espanha em decadência (não em crise!)? Além disso, ao contrário dos grandes ilustrados ingleses e franceses que vemos no ensino regular, que em sua maioria são ateus, deístas e lutadores bravos a favor da razão contra a Igreja, os ilustrados espanhóis, em sua grande maioria, faziam parte do clero. Como então reconciliavam a razão com a religião católica?


Diante de sua real decadência, a Espanha enfrentava no século XVIII a queda da arrecadação da prata, aumento da inflação, perdas dinásticas significantes como a independência dos Países Baixos, o fim da União Ibérica e em 1640 a quase perda da Catalunha. Os escritores do próprio século XVIII já viam seu querido país incapaz de alcançar o crescimento econômico da Holanda e da Inglaterra. Tudo isso dentro de uma perspectiva histórica da época em que tudo acontecia em ciclo. Se um dia a Espanha foi o grande Império que foi, agora era a hora de sua decadência, e nada podia se fazer sobre isso.


Essa idéia de história cíclica mudou com o Iluminismo. O homem tinha razão e por isso poderia mudar a história. Assim, o progresso para a Espanha ilustrada mostrou-se como sendo sua salvação e, para isso, era preciso iluminar seus cidadãos para que fosse possível mudar o país mudando, primeiramente, os espanhóis.


Mas por que suposta ou real decadência? Luis Sanches Agesta, um historiador do século XX, questiona essa real decadência considerada pelos espanhóis do século XVIII. Será que a Espanha foi tão grande assim? Mesmo em seu auge de Império, a nação espanhola enfrentou outros problemas, não tão equiparáveis com os que ela enfrentava no século XVIII, é claro; mas enfrentou.


Quanto à fé, os ilustrados espanhóis muito convincentes foram ao enunciar que a religião católica era a mais racionável de todas. Assim, apesar de muitos problemas contraditórios encontrados nesse assunto, conciliaram muito bem a fé e a razão na Espanha Ilustrada.

Os antecedentes do Rei Arthur

O mês já está quase acabando e eu nem passei por aqui direito. Mas nunca enfrentei umas férias tão cheia como esta. Estou mandando currículos meus para escolas de inglês e algumas delas exigem testes, mesmo se não há interesse algum em contratar um professor. Outras me chamaram, mas infelizmente nada deu certo. Ainda sou alguém sem carteira assinada. Isso tem me ocupado bastante tempo e é disso o que mais preciso para escrever um texto que será publicado - mesmo que esta publicação seja pela internet, justamente porque há leitores. Além do mais, essas férias atrofiou ainda mais minha habilidade de escrita. Enquanto estava estudando e constantemente era obrigada a escrever para a faculdade, tudo bem. Essas semanas paradas fez minha redação ser mais deficiente e mais demorada de ser realizada. Mas enfim, por escrever pouco, há um certo acúmulo de assuntos em minha mente a serem escrito e pretendo desacumular tudo, mesmo que seja em agosto.

O que eu não posso reclamar desse mês em casa, é o tempo que estou tendo para ler livros de ficção que antes eu não podia. Há um ano e meio li os quatro volumes da série As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Brandley. Não sei se isso é coincidência, mas desde criança, quando comecei a ler, me interesso por histórias que usam como plano de fundo a História ou personagens históricos. Meu primeiro livro, e isso vim a descobrir no início da faculdade, era em si próprio um documento: O Diário de Anne Frank. Devo a esta menina judia, que até sua morte e o final da segunda guerra era uma anônima e, agora, mesmo depois de mais de 60 anos, é uma referência para o mundo inteiro. Devo a ela meu gosto pela leitura.

As Brumas de Avalon se passa na Alta Idade Média na região da Brittania, quando o Império Romano já estava desintegrado, a Igreja Católica fincava suas raízes por toda a Europa, as religiões pagãs perdiam espaço em sua própria terra e as tribos e comunidades bárbaras colocavam medo em povos, que um dia, haviam sido protegidos pelos imperadores romanos. Neste contexto, surge o famoso Rei Arthur, seu fiel escudeiro Lancelot, o inteligente Merlin, sua linda e devotada esposa Guinevere e a bruxa Morgana. Mas nas Brumas, tudo isso tem uma perspectiva diferente: das mulheres e assim, a história tem seu lado sentimental, bastante característico do universo feminino, e seu lado político e religioso, que mostra o quanto as mulheres são fortes e tão capazes quanto os homens. Os livros da Marion, aliás, acusam essa errônea ideia de que as mulheres são frágeis e incompetentes em matéria de política como originalmente dos romanos, já que na Brittania, as mulheres possuiam um papel de influência política muito superior que a dos homens.

Pois bem, nessas férias li dois livros que se colocam cronologicamente anteriores às Brumas. A Casa da Floresta e A Senhora de Avalon, não tem o poder te prender o leitor de uma maneira que não é possível acabar de ler enquanto o livro não acabar e, quando acaba, aquela sensação de tristeza e de que no mundo inteiro não há livro tão bom quanto este que acabou de ler não invade nossos corações. Se, como eu, faz tempo que se leu as Brumas, a vontade é de rele-lo; se não os leu ainda, a vontade é de pegá-los imediatamente e começar a tentar descobrir qual será o destino das grandes sacerdotisas que servem à Grande Deusa.

A Casa da Floresta se encontra no fim da Idade Antiga, quando as dominações romanas estão crescendo e os prisioneiros de guerra são usados como escravos para o fortalecimento do Império. A religião oficial ainda é aquela de origem grega, cujos deuses têm como nome o que hoje correspondem aos nomes dos planetas do Sistema Solar. A religião cristã está começando a aparecer e os fiéis católicos são tratados pelos romanos como profetas irritantes. A maior preocupação das sacerdotisas e dos druidas e o plano de fundo principal da história são principalmente políticos. O amor impossível entre uma futura sacerdotisa e o filho de um importante funcionário romano é um pouco clichê e deixa a história um pouco monótona, mas a leitura vale a pena pelo seu final, principalmente.

A Senhora do Lago já se passa em três momentos diferentes e mostra a evolução da religião cristã, o início da Alta Idade Média na região da Brittania, a desintegração do Império Romano e o que as grandes sacerdotisas de Avalon precisam fazer para conservar sua religião e seus costumes. E, principalmente, mostra os preparativos e os antecedentes da vinda do Grande Rei Arthur e, inclusive, suas antigas reencarnações.

Entre tantas coisas lindas que são mostradas nestes dois livros e na série das Brumas a mensagem de que existe um só deus é uma das mais belas. As sacerdotisas da Grande Deusa não renega nenhum outro deus e dizem que todos os deus, independentes da forma e do nome que assumem, são um só; a diferença é que elas têm o grande privilégio de ver a forma real da deusa: vê-la como ela realmente é. O que traz o desequilíbrio entre as religiões é o fanatismo e o papel que elas assumem na política.

Enfim, os livros da série As Brumas de Avalon devem ser lidos por todos que gostam de romance, política e história.

Casa-Grande e Senzala

Casa-Grande e Senzala é um clássico da historiografia brasileira escrito por Gilberto Freyre na década de 1930. Dentre as leituras que fiz no meu primeiro semestre de faculdade, me atrevo a dizer que este é um livro único. Antes de uma obra historiográfica é uma compilação do que chamo de curiosidades históricas. A cada virada de página, que são mais de 400, dizemos “Nossa, que curioso!” ou então “Ah...Então é por isso que fazemos isso!”. É também possível, ao contrário das leituras pesadas e cansativas que fazemos como obrigação para a faculdade, ler Gilberto Freyre com o mesmo entusiasmo que lemos um romance e as 400 páginas divididas em apenas cinco capítulos tornam-se apenas 200.

G. Freyre não poderia ter colocado nome melhor para o seu livro, que se concentra na formação e nas relações sociais do povo brasileiro e é bom fugir um pouco da corrente marxista (não estou dizendo que ele a negue). Dentre os cinco capítulos, um é dedicado a uma introdução geral, outro aos índios, outro aos portugueses e os outros dois restantes aos negros, estes considerados pelo autor, ainda mais que os indígenas, como os maiores responsáveis por dar ao povo brasileiro essa cara que possui.

Uma vez havia lido em um artigo sobre preconceito que não era possível apagar 300 anos de regime escravista da nossa sociedade. Pois bem, Gilberto Freyre mostra isso também, mas sob um outro ângulo. As relações entre a casa-grande e a senzala foram fundamentais para que hoje se valorize a morena, que o povo brasileiro seja escandaloso gritando com quem fala, que nossa cozinha seja tão nossa e, principalmente entre tantas outras coisas que G. Freyre fala, que essa relação entre senhor e escravo foram fundamentais para dar ao brasileiro essa característica de povo acolhedor e alegre que ele tem e tão única – não sendo reflexo dos portugueses e nem dos negros, sendo uma mistura entre eles, com uma parcela de ajuda dos nativos.

Tem uma hora na leitura que pensamos se há algo sobre o qual ele não fala. Ele explica porque se têm no Brasil tantos sobrenomes repetidos, porque somos tão alegres e receptivos, além de falar sobre a prostituição no Brasil colonial, assim como as crendices, as comidas, os casamentos, etc. Assim, a senzala complementa a casa-grande e desse complemento surge... Nós! Uma coisa interessante que é lembrada várias vezes durante o texto, é a semelhança, segundo o autor, entre a colonização na América Portuguesa e na região que hoje corresponde ao atual sul dos EUA.

Para dar um gostinho das curiosidades contidas no livro, aí vão duas. O brasileiro é conhecido como um povo feliz e bem animado porque, e isso não é segredo para ninguém, tem em seu sangue a descendência dos negros. Pois bem, mesmo os indígenas que aqui já viviam no clima tropical se sentiam mais alegres no frio e na chuva; Freyre fala de relatos que colocam os índios dançando e sorrindo na chuva. O autor relaciona esse prazer dos indígenas aos seus antecedentes que viviam em climas gelados antes de atravessarem o Estreito de Bering. Os portugueses, por sua vez, eram europeus, acostumados com o clima temperado, sentindo-se assim pouco adaptados ao calor tropical. Agora os negros sempre fizeram parte do calor da África, se sentindo mais confortáveis e felizes no calor dos trópicos. É a isso que Gilberto Freyre acusa como sendo o motivo de, principalmente os baianos, serem um povo tão alegre. Para falar a verdade, em todo o texto o clima se apresenta como um fator determinante de comportamento.

Outro aspecto interessante é o motivo mostrado por Freyre para explicar essa predileção que o brasileiro sente por mulatas. Às mulheres brancas eram arranjados casamentos quando ainda eram muito novas. Com 13, 14 anos casavam-se com senhores de 40, 50 e até 60 anos de idade. Assim, muitas morriam no parto por serem muito novas ou então pela precária medicina da época. Muitas crianças viravam órfãs de mães e eram entregues às amas de leite para serem amamentados e cuidados. Esse foi o principal contato entre negros e portugueses para que surgisse essa preferência pela mulata, as palavras amaciadas ditas pelas negras (como iôiô, dodói e nenê) e o ciúmes das mulheres brancas da colônia. Freyre, usando a psicanálise de Freud dá exemplos de casos em que os homens só conseguiam gozar com uma negra e de um casal recentemente casado que, para o homem se excitar, era preciso levar consigo para a cama uma pedaço de roupa de sua mulata amada para sentir seu cheiro.

Enfim, Casa-Grande e Senzala é uma leitura cheia desses detalhes da vida colonial cujos alguns resquícios estão presentes em nossas vidas até hoje.

Era uma vez um astro do pop

Willian Bonner: Michael Jackson está morto!
Eu: O que?????

A morte de alguém do nível de Michael Jackson faz nós, meros mortais, lembrar que ninguém, nem Michael Jackson e nem Elvis Presley, é imortal. Nunca se falou tanto sobre ele, nem se mostrou tantas vezes seus clipes e nem se tocou tantas vezes suas músicas.

Nunca fui muito fã desse cantor, gostava de uma música ou outra, principalmente as do início de sua carreira. Até porque, nesses últimos anos, sua imagem me assustava. Quem acompanhou no canal E! da TV a cabo o julgamento do ídolo POP quando acusado de pedofilia, viu que os episódios pareciam um filme de terror misturado com suspense, um verdadeiro thriller. Sua face deformada ajudava o clima pesado do tribunal e as acusações horrorosas.

Mas tão importante quanto o sucesso de suas músicas é o que Michael Jackson representa para o final do século XX. Essa noite, no Jornal da Globo, o colunista musical Álvaro Pereira Jr. comentou esse papel que o ídolo pop representa para essa geração que acompanhou a ascensão e decadência de Michael Jackson. Ele não só faz parte de um momento em que a música negra ocupava um lugar no sociedade segregacionista estadunidense, como representou alguém bastante infeliz com sua própria aparência dentro de um padrão de beleza branco, magro e de cabelos lisos.

No final dos anos 60 começo dos anos 70, a segregação racial nos Estados Unidos diminui um pouco, o que permite uma aproximação da música negra com o restante da população branca estadunidense. Um outro exemplo disso além de quem estamos falando é Stevie Wonder. Dentro desta perspectiva Michael Jackson logo se destaca entre seus irmãos dentro da banda da qual faziam parte: os Jackson Five. Assim, ainda quando era integrante do grupo, já lançava álbuns solos. Tudo isso graças ao carisma que Michael Jackson possuia, indispensável para um astro da música pop. Além de se caracterizar como sendo um artista completo. Sem desmerecer, é claro, outros artistas, MJ não só aparecia no palco para cantar, era ele quem escrevia e compunha suas músicas, criava as coreografias e exercia papel bastante importante na direção de seus videoclipes.

É inegável dizer que a partir de um determinado momento o astro entrou em decadência. Afundou-se em dívidas, envolveu-se em escândalos como quando foi acusado de pedofilia e quando pendurou seu filho ainda bebê pela janela, sempre foi de uma saúde frágil e era conhecido por ser viciado em analgésicos. Se ele realmente praticou pedofilia é difícil dizer, mas quanto ao seu filho pendurado na janela do quarto do hotel, é como meu pai disse: ele nem sabia o que estava fazendo. Uma pessoa que não tem jeito, nem prática de cuidar de crianças, foi apresentar o filho pela janela, e acabou, sem querer, pendurando-o do jeito que fez.

Tudo isso tem a ver com uma fragilidade emocional e física. Era muito criança quando entrou nesse mundo de celebridade, ausente de qualquer maturidade psicológica, e acabou sofrendo com sua própria fama. Esta foi tão grande que acabou tornando-se destrutiva. Ainda sim, devemos muito a Michael Jackson pela revolução que ele causou na música pop, graças ao seu talento imenso e único.

Talvez ele adquira a mesma fama que Elvis, e há quem diga por aí que Michael Jackson não morreu. Sobre isso aliás, tenho algo a acrescentar: há os que perdem seus batimentos cardíacos, suas características biológicas, mas nunca morrem. Há muitos por aí que comprovam isso.

O Tempo

Parece um pouco estranho falar sobre o tempo. É algo tão abstrato mas que está presente em todos os apectos de qualquer ser vivo. Primeiramente poderíamos nos perguntar: qual o sentido em estudar o tempo sendo ele nada importante para os animais que não sejam os seres humanos? Pois bem, o ser humano é o único animal que pára para pensar no tempo e o problematiza. Mas ainda dentro desse grupo tão numeroso, há as comunidades que consideram o tempo como cíclico e por isso não há motivo de querer problematizá-lo criando métodos de contagem e registros dos acontecimentos para gerações futuras... Porque tudo se repete.

O curioso é que já foi comprovado que a escrita não surgiu unicamente num lugar e depois se irradiou. Pelo contrário, ela foi surgindo em diferentes lugares sem necessariamente algum contato com outros povos e culturas que já haviam inventado a escrita. E essas sociedades são justamente aquelas que problematizavam o tempo e assim, acharam uma forma de registrar acontecimentos e pensamentos, que pudessem se exteriorizar da memória humana, para as futuras gerações. Mas como sempre, há também excessões, e existe aquelas sociedades que problematizam o tempo e mesmo assim não têm escrita: elas guardam a memória de si na mente de alguém do grupo, que passa sempre para a outra geração todo o conhecimento histórico que tem e assim sucessivamente. Assim como a sociedade Inca, cujos domínios eram de considerável tamanho, era uma sociedade complexa e mesmo assim não possuem numerosos registros escritos.

Outro ponto discutido na aula de quinta-feira em Metodologia da Historia que me chamou a atenção foi a multiplicidade de faces que o tempo tem. Será clichê eu dizer que o tempo é relativo, mas é mesmo. Diante de mudanças políticas o tempo é curto. Tudo acontece ao mesmo tempo e as informações também são transmitidas ao mesmo tempo em que acontecem (privilégio de nossa geração); dois dias sem me informar sobre o senado, a câmara, o presidente e outros, já me sinto desinformada e um pouco deslocada da realidade política de tanto que certos aspectos mudaram. Em uma guerra o tempo torna-se médio, lentamente ritmado. Tudo muda constamente mas ao mesmo tempo ela perdura por um certo período as vezes maior do que outros. Ou, ao contrário da história factual política, cujos acontecimentos são muito mais individuais, numa guerra o domínio de responsabilidades coletivas têm um peso muito maior. Finalmente, há também o tempo lento que torna a história quase que imóvel. O homem não consegue acompanhar as mudanças geográficas que acontecem ao seu redor, nem a evoluação das espécies. Acontecimentos como estes são imperceptíveis ao ser humano.

Diante disso, o historiador se assume na tarefa de articular todas essas faces do tempo levando em consideração suas particularidades e o objeto/tema a ser estudado. Só mais uma coisa: adorei a aula de ontem!

Ibérica - 1° parte

Visando facilitar meu trabalho de História Ibérica I, irei postando aos poucos, tudo o que eu achar importante para a formatação de minha pequena monografia. Com isso, ao término das pesquisas, terei um conjunto de posts sobre um mesmo assunto que não deixará eu esquecer informações cruciais. O trabalho se trata sobre as políticas tomadas por D. João II e, posteriormente, por D. Manuel I, ambos reis de Portugal, diante de uma massa de judeus expulsos da Espanha pela Inquisição que lá já havia se instituído. Nesse post, tudo que será dito, foi baseado na leitura dos primeiros capítulos do livro Inquisição e Cristãos-Novos de Antônio José Saraiva.

A Inquisição significou a aliança entre o poder monárquico e a Igreja, que agiu de maneiras diferentes em cada nação em que se instituiu. Os judeus, por exemplo, é um problema exclusivamente ibérico (região na qual coexistiram três religiões por muito tempo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo); apesar de ocuparem papel de destaque na economia espanhola e, principalmente, portuguesa. Isso pode ser um indício de que a população cristã sofria um atraso econômico e social nessa parte da Europa: a burguesia cristã não tinha condições de enfrentar, muito menos substituir, a burguesia judaica.
Os judeus também exerciam importante função social. Apesar de serem protegidos pelos reis, permaneciam às margens da sociedade: eram eles quem praticavam a usura, cobravam impostos, e viviam entre os cristãos para não esquecerem que pertenciam à linhagem que crucificou Jesus Cristo. Assim, desde a Idade Média, os judeus foram considerados como estranhos que não se misturavam, como um povo reservado e quieto que culminou com o famoso Holocausto no século XX.
Diante de tudo isso, a perseguição aos judeus na Espanha começa em 1391, em 1449 é feita a primeira lei de "limpeza de sangue", em 1478 os Reis Católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela) instituem a Inquisição em Castela e, finalmente, em 1491 é ordenada a expulsão dos judeus num prazo de 4 meses, muitos dos quais, se dirigem à Portugal. Esta, cobrou impostos de recebimento, um pouco menor para judeus que realizavam determinados trabalhos manuais com ferro, na promessa que dentro de um determinado prazo seria lhes dado um navio para irem onde quisessem. Bom, ao final desse prazo, uma parte embarcou para o norte da África e a que ficou foi reduzida à escravidão, vendida ou doada pelo rei Dom João II.
Em 1495, Dom Manuel restitui a liberdade aos judeus, mas logo depois, em condição de casamento, dá um prazo de mais de 10 meses (em contraposição a Espanha, que deu um prazo de 4 meses) para a expulsão dos judeus de Portugal. Durante esse período, D. Manuel separou as crianças menores de 14 anos de suas famílias para serem criadas por famílias cristãs e isenta de qualquer acusação religiosa o povo judeu. No dia da expulsão, quando estavam no porto, um bando de frades, jogou água sobre os judeus e assim os batizaram à força. Diante disso, poucos conseguem embarcar.
A partir disso, D. Manuel cria políticas de integração entre os cristãos-velhos e os cristãos-novos (judeus que foram batizados), além de prorrogar o tempo de proibição de acusações de práticas judaicas, proibir a emigração de cristãos-novos e criar leis que acabassem com a discrminação. Dom Manuel parece assim um rei muito bonzinho, mas na verdade ele nada mais é do que bastante maquiavélico. Proibiu as emigrações porque os reis da Espanha queriam os cristãos novos de volta e, em 1515, em resposta ao Rei da Espanha, pede ao seu correspondente em Roma para que peça ao Papa para instituir uma Inquisição em Portugal alegando que os cristãos-novos da Espanha estavam sendo um mau exemplo aos cristãos-novos portugueses por praticarem o judaísmo escondido e agirem como rebeldes.
Ao término de seu reinado, a Inquisição ainda não havia sido instituida em Portugal e conforme o que pretendia sua legislação, houve uma assimilação dos antigo povo judeu como cristãos pelos portugueses (comprovado pelos inúmeros casamentos entre cristãos-novos e velhos)

Eu amo tudo o que foi

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

Fernando Pessoa
1931

Como meu príncipe me fala, se não fosse tudo o que aconteceu, possivelmente não teríamos nos encontrado, e mesmo que tivessemos nos encontrado, capaz que tudo o que aconteceu entre agente (que foi simplesmente perfeito) não teria acontecido como ocorreu. Por isso que eu amo tudo o que foi e, principalmente, a dor que já não me dói.

Além disso, constantemente me descubro um pouco mais, e me amo apesar de todos os meus defeitos. E assim, a antiga e errônea fé se transforma numa nova e certa fé!

Feliz Páscoa à todos. Não sou uma pessoa muito comemorativa, mas desejo que todos possam comer chocolates. Afinal, essa é o único momento do ano que podemos passar mal de tanto comer chocolate e ainda engordar e ser vítima de um ataque de espinhas em conjunto, portanto, ninguém julga ninguém.

Eu adoro a língua portuguesa. Não porque me dou bem com as regras da gramática, nem porque sempre tive boas notas nessa disciplina. Mas porque não é uma língua técnica. Ela é complexa, sonora e propícia a bons poemas e lindas poesias.

O início

Faz realmente muito tempo que a criação desse blog estava em meus planos. O que está em meus planos agora é que eu não o abandone como fiz com outros blogs, fotologs e sites de relacionamento que não fosse o orkut.
Enfim, o objetivo deste é que eu possa ver futuramente, o quanto minhas idéias amadureceram (afinal, não nego que sou uma metamorfose ambulante) e também para que eu possa registrar reflexões e pensamentos que possam vir a ser úteis algum dia.
Quanto ao nome do blog, guardo bem as palavras de minha professora: ''O Historiador também é conhecido como Profeta do Passado.''
Já que eu não tenho paciência de escrever diário, que esse registro virtual torne-se um documento de minha existência.