Pode parecer, mas não comecei a escrever ficção científica

Estava vendo minha última postagem... "Retomando". A ideia de dois anos atrás era voltar à prática de escrita e o que veio depois dessa intenção registrada nos domínios desta página? Um grande nada.

Minha relação com a escrita é assim mesmo... Ela vai e vem. A vontade sempre está lá. Como a vontade de comer um doce (um brigadeiro, s'il vous plaît)- ela é onipresente. A diferença é que a vontade pelo açucar é controlada, ignorada, suprimida. Enquanto a vontade de escrever é sufocada pelo medo, pela preguiça, pelo receio de crítica e julgamento alheio.

Enfim, dei uma olhada rápida nestas páginas (ou postagens passadas). Como é estranho se ver assim, em retrospectiva. Não que eu queira ser uma metamorfose ambulante, mas como mudei. De qualquer maneira, o mundo também muda. E se nos arquivos daqueles que viveram nos séculos XIX e XX os cadernos são abundantes, talvez devo me contentar com o blog - cujas postagens se assemelham às páginas já usadas de um caderno tilibra 200 folhas. Por isso, não vou queimar este caderno, nem me desfazer deste blog e começar outro. (Sim, a ideia de apagá-lo me passou pela mente)

Além disso, os motivos que me trouxeram novamente a este endereço virtual coloca todo a vergonha ou discordância do eu-passado em perspectiva tão, mas tão insignificante: estamos há 50 dias em quarentena porque uma pandemia parou o mundo.

Nossa, essse blog virou um espaço de laboratório de escrita de ficção científica?

Não, infelizmente estamos vivendo a ficção científica.

A pandemia tem nome, número de mortos, número de infectados, número de leitos em UTI disponíveis, número de infectados com isolamento, sem isolamento, com tratamento x, com tratamento y, números, números, números é o que não faltam. O que falta é sentimento mesmo. Perspectiva, esperança, otimismo, empatia, etc. O léxico deste conjunto "humano", está esquecido, apagado, colocado de lado.

Eu estou mal, mas acho que ninguém está bem. E o sentimento coletivo de desolação é geral.

O tempo disponível, a mudança do ritmo da vida, o choro, essa mudança radical de vida de uma hora para outra traz muitas reflexões, que têm coincidido com as leituras que tenho feito. Tenho lido vários autores incríveis, contemporâneos e clássicos... E me veio a vontade de escrever, de conversar. Infelizmente, nem sempre a gente consegue falar com alguém sobre o romance que acabamos de ler. Além de nem todo mundo ao redor estar lendo o mesmo que você, vivemos uma situação em que, bom... Não conseguimos conversar com muita gente tête-à-tête em isolamento social.

Por isso pensei em voltar a escrever como um exercício tanto de reflexão, como de conversa. Afinal, escrever e publicar na internet significa escrever para um público - mesmo que seja um leitor anônimo qualquer - e reforçar um sentimento de interação social que está sendo apagado pelo confinamento.

Vamos ver se isso continua. Se não continuar, é porque a vontade de escrita foi colocada em segundo plano, ou porque... é uma pandemia, né! Tudo muda de uma hora para outra. E se não continuar, que este blog continue existindo como um suporte de posts infinitos sobre minha vontade fracassada de voltar a escrever.

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