Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo

"[...] A Academia Brasileira de Letras tem que ser o que são as insituições análogas: uma torre de marfim [...]." - Machado de Assis, 1897

"A primeira fase de vossa ilustre instituição [ABL] decorreu à margem das atividades gerais [...]. Só no terceiro declínio deste século operou-se a simbiose entre homens de pensamento e ação." - Getúlio Vargas, 1943

Durante o período conhecido como Estado Novo, os intelectuais tiveram um papel que até então lhes fora negado. Na passagem do Império para a República, a intelectualidade que via a literatura como uma missão transformadora tomou consciência do seu papel possivelmente político e da necessidade de sair da teoria para a prática. No entanto, uma sociedade tradicional colocaria uma barreira entre estes pensadores e qualquer ação política.

Quando Machado de Assis se refere à ABL como uma “torre de marfim”, ele coloca a instituição num papel de refúgio dos intelectuais que, afastados da sociedade, conseguiriam melhor observá-la e refletir sobre ela. Era um lugar onde os literatos não precisariam se preocupar com nada se não a literatura.

No Império, a classe literária também ficou marginalizada. Na recém formada nação, a sua missão foi a de criar um temário nacionalista destinado à valorização do país.

No Estado Novo, porém, as coisas mudam. Os intelectuais são chamados pelo governo a fazer parte deste. Olhemos a frase de Getúlio Vargas: ele critica a posição marginalizada da ABL e se refere a uma “simbiose entre homens de pensamento e ação”. Dessa vez, a intelectualidade irá atuar diretamente no governo a fim de promover uma política-pedagógica da ideologia do regime do Estado Novo. O ingresso de Getúlio à Academia também ilustra muito bem isso. Ele já não é mais só o homem de ação, mas também é capaz de pensar sobre os destinos da nação.

A atuação dos intelectuais na política ocorrerá através do DIP e do Ministério da Educação que, liderado por Gustavo Capanema, muitas vezes será chamado de Ministério Capanema. Cada um dos organismos tem um público alvo diferente. O Ministério é mais voltado à cultura e à uma formação erudita; já o DIP vai procurar orientar as manifestações populares através do controle das comunicações. Não é a toa que seus componentes são intelectuais conhecidos pelo pensamento autoritário e centralista – Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia e Cândido Motta Filho.

Por um lado, os intelectuais se autointitulam como os capazes de traduzir as necessidades da população em geral que, em sua maioria iletrada, não conseguem se manifestar. Por outro, parece que o regime getulista do Estado Novo faz uso dessa aparente capacidade para se autopromover. É graças aos intelectuais e a partir deles que é possível entender a base organizacional do governo que se apóia, se não inteiramente, quase, na cultura.

3 comentários:

  1. Nao sabia disso...interessantissimo !

    a gente só ouve falar daqueles militarers la e da classe trabalhadores e tals, nao dos intelectuais

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  2. Poiseh, realmente nunca tinha ouvido falar em intelectuais na política getulística.

    Durante o Estado Novo, a literatura estava um tanto estabilizada, quanto ao que se tem de novidades. Já tinha passado o boom da SAM de 22 e ainda não tinha chegado em 50, e suas grandes novidades.

    Mas também é perceptível que isso se encaixa na política de imagem do Getúlio.

    Não si, Gi, mas parece que você ainda têm muito a dizer sobre esse assunto... hehehehehe

    beijos

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