Brevíssimos comentários sobre O Monge, o livro do Clube de Leitura de Abril

Acabei de ler O Monge semana passada, mas não sei muito bem o que falar dele e fiquei enrolando até hoje para escrever algumas linhas. Li porque foi a leitura programada deste mês do clube do livro. A sinopse me pareceu interessante, ouvi falar muito bem, mas não é um livro da minha caixinha. Eu não leio muito coisas escritas antes de 1850. Na verdade, até pouco tempo atrás, minhas leituras eram muito mais século XX e só nos últimos meses tenho lido mais século XIX. O Monge foi escrito pelo inglês Matthew Gregory Lewis e publicado em 1796! Século XVIII é um pouco longe demais para mim. 

Não é que eu não gostei! Eu gostei bastante sim! É uma narrativa cheia de surpresas. Um eita atrás de eita! Só não rolou aquela identificação. 

O livro conta duas histórias paralelas, cujos personagens se entrecruzam no tempo e espaço. A maior parte se passa na Espanha, dentro de um convento, um mosteiro, e umas ruínas subterrâneas labirínticas que compartilham o mesmo subsolo destes dois edifícios.  Dada a época e local, a Inquisição é uma instituição muito presente, apesar de só no final ela aparecer de forma mais concreta. A burocracia, a estrutura de poder, a moral repressora da Igreja Católica sobre as pessoas e suas relações com os outros e seus próprios corpos... Tudo isso aparece o tempo todo. 

Em uma história, acompanhamos o Padre Ambrosio* que, ao ser seduzido por uma mulher, descobre as tentações da carne e não consegue mais fugir de sua luxúria. A outra história é um romance de cavalaria. Acompanhamos Dom Raymond, um cavaleiro, sua mulher amada Agnes e Lorenzo, irmão de Agnes e amigo de Lorenzo. Por causa de uma promessa feita no nascimento de Agnes pelos seus pais, a moça é prometida a Deus, mas ela e Raymond são apaixonados um pelo outro. Por causa de mil infortúnios, ela não consegue fugir de seu destino e acaba se tornando freira. Nesta história acompanhamos seu amado e seu irmão tentar de tudo para resgatá-la das paredes e regras opressoras do convento. 

As idas e vindas de Raymond, Agnes e Lorenzo eu achei mais legal. Na longuíssima introdução destes personagens, Raymond faz uma retrospectiva e conta suas aventuras aos redores de Paris numa casa de um grupo de bandidos que quer matá-lo, depois sua ida a um castelo em Strasbourg, onde conheceu Agnes, sua experiência de quase morte nas mãos de um fantasma, seu exorcismo e, finalmente, seu retorno a Madrid para salvar sua amada. Essa parte é muito legal, principalmente quando uma confusão entre Agnes e a fantasma que assombra o castelo, a Bleeding Nun, acontece. Raymond também tem um escudeiro, Theodore, que escreve poesia, é jovem e animado. Essa parte do livro lembra um pouco Dom Quixote e foi uma delícia ler. (Aliás, a Bleeding Nun é um personagem muito interessante!)

A primeira metade do livro é divertida: na história de Ambrosio, um eita atrás de eita, e na história de Agnes, Raymond e Lorenzo, uma aventura cavaleiresca com toques fantasmagóricos. Na segunda parte, no entanto, comecei a ficar cansada. 

Século XVIII, Inquisição, Deus, Diabo. Existe uma discussão moral muitíssimo forte. A culpa, a tentação, o pecado, o perdão, as instituições religiosas, etc são temas aparecem em longos sermões, diálogos e fluxos de pensamentos num estilo rocambolesco. Ninguém no século XVIII vai direto ao assunto. Normal. Só que isso deixou a leitura cansativa e no final eu só estava "ai, tá bom, vai logo". Só frizando: são temas e assuntos sobre os quais não leio muito, que não estão em minhas leituras rotineiras. Então não tenho muito o que falar sobre tudo isso. 

De qualquer maneira, o livro tem um grande valor. Ainda mais para lembrar que só porque existiam instituições reliogiosas muitissímo rigorosas, as pessoas não deixavam de  pensar e falar obscenidades, não deixavam de fazer sexo e não desafiavam as regras institucionais. Durante um semestre na faculdade cursei a disciplina de História Medieval II, que foi quase um curso de como os homens medievais eram pervertidos. Praticamente um grupo de whastapp de homens dos dias de hoje impressos em pinturas, literatura e esculturas nas paredes de todos os edifícios possíveis numa estética medieval. 

Enfim, se eu fosse dar uma avaliação de estrelinhas, eu daria nota 3 - relativamente recomendado. O livro é bom, divertido, mas não fez aquela conexão com meus gostos e assuntos de interesse.

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* Esquerdo-macho do século XVIII, que tem um papinho sedutor e as meninas amam.

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