Persuasão, Jane Austen - o livro que não me convenceu

Faz um tempo que não passo por aqui, o que não significa que não tenho lido. Além da vida tumultuada, minhas últimas leituras foram para o Querido Clássico e por isso as resenhas têm sido publicadas lá. Também fiz uma viagem de uma semana para o Texas durante o que eles chamam aqui nos EUA de Spring Break. Foi uma experiência incrível e, se der tempo, escreverei sobre algumas coisas no blog nos próximos dias. Mas hoje vim falar sobre o último livro que li: Persuasão, de Jane Austen.


Como um leitora que adora literatura anglófona, clássicos e um romancizinho, eu achava um erro nunca ter lido Jane Austen. Inclusive, nunca nem vi os filmes e só sei quem é Mr. Darcy porque a fanbase da autora é muito fiel. Aproveitei que a obra do mês de março do Clube de Leitura do Querido Clássico era Persuasão, e que eu havia ouvido falarem muito bem desta obra (escrita num momento mais maduro da autora), para conhecer a tão famosa Jane Austen. 

Infelizmente, o santo não bateu. Quando cheguei na metade, eu queria deixar o livro de lado, mas insisti porque, afinal, às vezes vem surpresa boa. Não foi o caso. O livro é chatíssimo do começo ao fim. Não gostei dos personagens: achei que faltou carisma. Tirando a protagonista Anne (ela mesma muito apática), todos os outros personagens ou são chatos, implicantes e odiosos (como suas irmãs e pai), ou aparecem muito pouco. Lady Russel, a personagem que achei mais interessante, é mencionada sempre, mas nunca está presente nas cenas e, se está, sua participação é mínima. Ou seja, aquele "poder de persuasão" todo, a gente não conhece, só ouve falar. 

É uma história de amor. Anne e Frederick Wentworth se amam e querem se casar, mas pelo fato de Wentworth ser um zé ninguém, Anne é "persuadida" pela Lady Russel e sua família a não se casar. Os pombinhos se separam e a história do livro começa oito anos depois quando, adivinhem, Wentworth volta RICO. (Gente, desculpa, achei tosco esse clichê) Ele volta amargurado, de coração partido, procurando uma noiva e Anne descobre ainda gostar muito dele. No decorrer das páginas vamos acompanhando essa reaproximação dos pombinhos. 

O que faltou, no entanto, é o próprio Wentworth nessa história. Ele mal fala, sua presença nas cenas é mínima, ele é uma ideia praticamente. Uma ideia de Anne. E no final, sua declaração vem em forma de carta. CARTA. Enfim, que homem apaixonante é esse? Um homem que não tem voz, calado, que se comunica por vias escritas? Achei este herói o mais sem personalidade possível. Esse "amor" não me convenceu e achei chatíssima toda a interação dos dois. 

Outra coisa que desgostei no final foi a conclusão de que "sim, foi melhor a gente não ter se casado há oito anos. Apesar de sofrido todo esse tempo e reaproximação, eu faria tudo de novo", enquanto esse sobrenome - Wentworth - pode ser lido como "a ida que valeu a pena"? 

Fiquei pensando porque desgostei tanto. Acabei achando o livro um filme de princesas da Disney, na qual a protagonista, Anne, é a coitada rejeitada pela família, e o príncipe bonito que não fala vem salvá-la. Ou então, uma Malhação da vida, com muitos personagens, todos rasos e pouco interessantes, cuja história se desenvolve em torno de um casal apaixonado que vai ficar junto no final apesar da resistência de todos que estão a sua volta. Mas, não é possível! É a Jane Austen, sabe? Ela tem seus méritos, eu acredito nisso. 

Concluí que se eu fosse mais nova, eu teria gostado mais desta história romântica, idealizada. Mas casada há alguns anos, eu vejo o amor e o casamento como uma construção, uma batalha que é feita diariamente, porque nenhum companheiro/a é calado e se comunica por cartas. O amor é construído na fala, no toque, na risada e no choro. Na briga e na conciliação, porque ninguém é perfeito. A gente vai errando e aprendendo a consertar os erros juntos. Por mais que às vezes eu goste de uma história romântica, não há heróis e heroínas perfeitas como Wentworth e Anne. Enfim, entendo o gênero, mas não me convenceu. 

Outro fator que me fez desgostar deste casal e romance apático foram minhas últimas leituras. Em Charles Dickens, Edith Wharton, Henry James, Silvina Ocampo e Lucia Berlin, o casamento aparece como um elemento perigoso, que destrói e, as vezes, mata. E o amor? Bom, ele existe, mas ele é só mais um elemento dentro de uma série de conjecturas sociais que sufocam e colocam em xeque toda a supremacia idealizada deste sentimento. 

Bom, é isso. Não gosto muito de ficar falando mal dos livros neste meu diário de leitura, mas é a vida, né. Pelo menos tirei da frente a vontade de conhecer Jane Austen. Com certeza, só por isso, já valeu a leitura. 

2 comentários:

  1. Ah! Bom demais encontrar blogs ativos escrevendo sobre livros :)
    Tenho a impressão que o pessoal abusa tanto dos clássicos que quando a gente finalmente lê parece que estamos lendo o maios clichê de todos os tempos haha

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    1. Sim! hahaha Pode ser. Acho que justamente por serem clássicos, eles estão em todos os lugares, e aí sempre se tornam familiares. Mas, ainda sim, eu não acho um Shakespeare da vida entendiante, apesar de ele ser quase onipresente na produção cultural. Não sei como você chegou no meu blog, mas bem-vinda! Vi no seu perfil 3 blogs, compartilha aqui o principal, que vira e mexe eu acompanho os que têm na minha lista.

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