O que se entende por sociedade propriamente histórica?
Sociedade propriamente histórica é aquela que, diferente da sociedade histórica, problematiza o tempo, sua história. Através da ideologia, faz uso de datas próprias, instituições próprias e precondições específicas para não estar no tempo, mas ser o tempo. Em outras palavras, toda a sociedade é histórica porque é temporal, porém, a sociedade propriamente histórica tematiza sua temporalidade, transformando-a em objeto de reflexão. Como conseqüência desse processo, a ideologia ganha um sentido concreto e continuamente cria internamente sua diferença consigo mesma. Essa petrificação do tempo característica da sociedade propriamente histórica, por sua vez, só pode ser alcançada pelo uso da violência e da máscara de uma identidade fixa, manejada pela ideologia.
Há um terceiro tipo de sociedade, que não se encaixa muito bem nessa classificação. É a sociedade que oferece a si mesma uma explicação que transcende a própria sociedade e assim lhe garante intemporalidade. Vista sob nosso ponto de vista ela é sim histórica, mas para ela mesma não. Encontramos essa característica em sociedades orientais, cujo tempo é encarado como cíclico e a história não é registrada, mas contada oralmente.
Exlique o conceito de ideologia como discurso lacunar
O discurso ideológico é feito por lacunas, por espaços em brancos e é graças a isso que seu discurso faz sentido. Essa coerência é o fato de que se mantém com uma lógica coerência e que exerça poder sobre os sujeitos sociais e políticos. “É porque não diz tudo e não pode dizer tudo que o discurso ideológico é coerente e poderoso”. Se tentarmos preencher os espaços em branco, não transformaremos um discurso ideológico ruim em um discurso ideológico bom, destruiremos em verdade sua condição de ideologia.
Por que a ideologia se mantém?
Uma vez que a ideologia se mantém na recusa da realidade, cabe a pergunta de como e por que ela se mantém. Em outras palavras, é preciso entender como a vida social e política oferece meios para reforçar a ideologia.
1° motivo: caráter imediato da experiência a faz permanecer esmagda no desconhecimento da realidade concreta, isto é, do processo de constituição da sociedade e da política. Ou seja, o fazer, a prática, que é feita e logo acaba, não está envolvido com seus processos mais amplos de porque’s e conseqüências, caracterizando, se eu não estiver enganada, num processo de alienação de seus agentes.
2° motivo: a ideologia oferece um “bem-estar” aos indivíduos sociais e políticos retratando uma realidade falsa como idêntica, homogênea e harmoniosa, fornecendo aos sujeitos uma resposta aos desejo metafísico de identidade e ao temos metafísico da desagregação. É uma exigência metafísica dos sujeitos sociais e políticos. A ideologia propicia uma experiência de racionalidade organizada e de lugar “natural” de cada ser humano, e é isso que dá à ideologia força total. Aqui é a primeira vez que usam a metafísica como um argumento concreto.