Retrospectiva de leituras 2023: o ano que tudo mudou

O ano de 2023 foi o mais desafiador e maravilhoso da minha vida. Comecei o ano de um jeito e acabei com a neném mais linda no meu colo e sob os meus cuidados. Minha primeira gravidez. Meu primeiro bebê.

Como ficaram os livros numa fase da minha vida onde toda a minha energia era voltada para a gestação de um serzinho? Bom, para além de todas as mudanças hormonais e mecânicas do meu corpo, meu cérebro também decidiu concentrar-se apenas no que era importante e a leitura consumia uma energia que eu não tinha mais disponível. 

Por um bom tempo, eu fiz uma pausa de livros e maratonei Sex and the City

Antes da gravidez, até fim de março, eu devorei duas trilogias de ficção científica de Jeff VanderMeer (ele é todo ligado à questões ambientais e suas redes sociais são bem interessantes): Southern Reach (Comando Sul, na edição brasileira) e Ambergris. Ambos falam de uma espécie de "fim de mundo" que não encara o fim como ruptura, mas sim um processo de transformação (exatamente o que viria a ser o futuro pra mim e minha transformação como mãe). Aniquilação, primeiro volume de Southern Reach, tem uma adaptação na Netflix com a Natalie Portman como protagonista. Eu adoro esse filme e já assisti três vezes. 

Eu estava cansada de ficção científica depois de quase 2000 páginas nesse assunto e passei para algo muito mais palpável. O filme American Psycho é um favorito meu e do meu marido. Wall Street, New York, mercado financeiro, cultura norte-americana, American Dream, etc, são assuntos que nos interessam e a atuação de Christian Bale faz o filme ser uma jóia prima. O livro é ainda mais violento. 

Durante a leitura de American Psycho e no meio de suas representações gráficas de sangue, violência, misoginia, e o abismo depressivo e emocional de Patrick Bateman, vieram os primeiros sintomas da gravidez. Precisei diminuir o ritmo. Parar a leitura, retomar. Parar de novo. Ate que finalmente acabei. 

Meu prazer pela leitura ficou comprometidíssimo e, na época, decidi ler algo que provavemente seria muito bom: um livro sobre Nova York escrito por um dos autores do Modernismo norte-americano. Manhattan Transfer de John dos Passos começou muito bem, mas tinha uma narrativa desafiadora demais para minha versão grávida. Por meses, enrolei uma leitura de 200 páginas e abandonei nas 200 páginas restantes. 

Esse desgosto com os livros mudou graças à Shirley Jackson. Sempre Vivemos no Castelo mudou toda a percepção do que eu deveria ler daquele momento em diante. Li a história de Merricat e Constance em um dia e me apaixonei. 

Percebi que o que eu precisava era ler uma mulher, falando sobre outras mulheres, sobre os saberes caseiros, sobre a rotina diária de preparar o café da manhã para os integrantes de uma família, sobre segredos e hábitos escondidos em as quatro paredes de uma casa, sobre tudo o que envolve o universo do feminino, do cuidado e do doméstico num mundo e sociedade patriarcal e machista. 

O toque gótico da Shirley Jackson só tornou tudo ainda mais interessante. Assim como as lembranças que a casa da Nova Inglaterra de Sempre vivemos no Castelo me trouxe de A Casa das 7 Torres

Por isso, depois de Jackson, fui para o último livro de contos de Silvina Ocampo publicado pela Companhia das Letras: As Convidadas

Mas eu queria mais. Precisava ler mais mlheres falando sobre mulheres, a maternidade, a relação homem-mulher, mãe-filho, a gestação, a família. Parti para a releitura da tetralogia As Brumas de Avalon. (Eu e meu marido lemos a obra de Marion Zimmer Bradley em 2008, quando ainda éramos namorados.)

No fim de As Brumas, já estava me aproximando do final da gestacão e decidi ler apenas contos.  Começar um romance seria correr o risco de parar no meio e não conseguir retomar tão cedo. Por causa de uma sugestão do Kindle, baixei Mariana Enriquez, Os perigos de fumar na cama. Que livro maravilhoso! Não podia perder tempo, e logo depois li As coisas que perdemos no fogo

Apaixonada pelo mundo dos contos, olhei para minha casa e procurei uma autora brasileira: Lygia Fagundes Telles. Quando acabei O Seminário dos Ratos, minha bebê veio ao mundo. 

Esses foram os livros de 2023. O ano em que fiquei grávida e tive uma filha. O ano que minha vida mudou. O ano que eu mudei. 


1 - Southern Reach Trilogy (Annihilation) - Jeff VanderMeer

2 - Southern Reach Trilogy (Authority) - Jeff VanderMeer

3 - Southern Reach Trilogy  (Acceptance) - Jeff VanderMeer

4 - Ambergris Trilogy (City of Saints and Mad Men) - Jeff VanderMeer

5 - Ambergris Trilogy  (Shriek: An Afterword) - Jeff VanderMeer

6 - Ambergris Trilogy  (Finch) - Jeff VanderMeer

7 - American Psycho - Bret Easton Ellis

8 - Manhattan Transfer - John dos Passos

9 - Sempre vivemos no castelo - Shirley Jackson

10 - As Brumas de Avalon - A Senhora da Magia (Livro 1) - Marion Zimmer Bradley

11 - As Brumas de Avalon - A Grande Rainha (Livro 2) - Marion Zimmer Bradley

12 - As Brumas de Avalon - O Gamo Rei (Livro 3) - Marion Zimmer Bradley

13 - As Brumas de Avalon - O Prisioneiro da Árvore (Livro 4) - Marion Zimmer Bradley

14 - As Convidadas - Silvina Ocampo

15 - Os perigos de fumar na cama - Mariana Enríquez

16 - As coisas que perdemos no fogo - Mariana Enríquez

17 - Seminário dos Ratos - Lygia Fagundes Telles


(Em negrito são os livros que eu mais gostei.)



Em março 2023, antes de descobrir que estava grávida, visitei A Casa das 7 Torres, em Salem, MA.



Nessa mesma viagem por Massachussets, passamos por New Bedford, cidade de onde Ishamel e Capitão Ahab partem embarcam para caçar baleias, Na foto, parte da fachada da Capela dos Marinheiros, citada por Herman Melville em Moby Dick. 

Retrospectiva de leituras 2022: os últimos nunca serão os primeiros, porque seremos os últimos a saber

Nos últimos 30 dias, 2022 virou 2023 e um novo presidente no Brasil assumiu o cargo. 30 vezes o sol se pôs e nasceu de novo. Meu blog, porém, ficou parado. 

Eu queria ter publicado minha retrospectiva de leitura de 2022 no dia 30 ou 31 de dezembro (justamente quando se fazem retrospectivas), mas vários acasos me fizeram postergar essa publicação. Está todo mundo falando de Carnaval, e eu aqui vendo minha lista de livros do ano passado. 

Enfim, em 2022 minhas opções de leitura foram muito ecléticas. Não consigo ver uma lógica que une todos. Eu fui indo, explorando e experimentando. Reli alguns autores com quem eu já tinha familiaridade e conheci novos. 

Dos autores que já estiveram por aqui, Ocampo, Roth, Wharton, James, Salinger e Ana Paula Maia foram motivos de satisfação mais uma vez. Murakami, porém, foi uma decepção. O pior livro do ano foi com certeza Norwegian Wood, o que constrastou enormenente com as outras obras do autor que haviam sido um grande conforto para mim. 

Dos autores que conheci este ano, mas já mortos, amei Dickens e Hawthorne. Com certeza quero lê-los novamente. Dos autores ainda vivos, Paul Auster foi a minha maior surpresa. Eu fiquei fascinada. Acabei com a sensação de que não apenas eu PRECISO ler mais livros seus, como preciso reler o mesmo livro e ir caçando todas as mensagens nas entrelinhas que eu deixei passar. Eu diria que New York Trilogy entra na categoria de "livros geniais que mudaram minha vida". McCarthy também foi muito legal e uma experiência de leitura bem bacana.

Finalmente, outro livro que me cativou foi Hamnet, uma obra super contemporânea, que conversa enormente com Lucia Berlin, Silvina Ocampo, e Edith Wharton. Autoras mulheres de lugares e tempos completamente diferentes, mas que falam justamente da mulher mãe, esposa, filha e dona de casa. 

O último livro da lista, Huckleberry Finb, comecei a ler e não consegui acabar. Quando estava mais ou menos na página 100, embarquei de férias para o Brasil. Em outro país, uma outra língua... não consegui dar continuidade. Um dia retomarei, pois estava bem legal. 

Só uma coisa me entristece nessa lista. Desde que comecei o blog em 2020 como um diário de leitura, este ano foi a primeira vez que deixei de escrever sobre algumas obras. Principalmente no final, parece que abandonei meu objetivo com este blog. Ainda bem que toda vez que o ano muda, temos novas chances. 


1 - Welcome Home: a memoir with selected photographs and letters - Lucia Berlin

2 - The Witcher Vol. 1: The last wish - Andrzej Sapkowski

3 - A Fúria e outros contos - Silvina Ocampo

4 - Norwegian Wood - Haruki Murakami

5 - David Copperfield - Charles Dickens

6 - A single man - Christopher Isherwood

7 - The House of Seven Gables - Nathaniel Hawthorne

8 - Macbeth - Shakespeare

9 - O mundo da escrita: como a literatura transformou a civilização - Martin Puchner

10 - Persuasion - Jane Austen

11 - O Monge - Matthew Gregory Lewis

12 - Unwinding anxiety - Judson Brewer

13 - Goodbye, Columbus and five short stories - Philip Roth

14 - Ethan Frome and other stories - Edith Wharton

15 - Hamnet - Maggie O`Farrell

16 - The Portrait of a Lady - Henry James

17 - The Best American Mystery Stories of the 19th Century - Otto Penzler (org.)

18 - O Corcunda de Notre Dame - Victor Hugo

19 - The Tender Bar - J.H. Moehringer

20 - The Catcher in the Rye - J.D. Salinger

21 - The Road - Cormac McCarthy

22 - Tender is the Flesh (Saboroso Cadaver)  - Agustina Bazterrica

23 - De Gados e Homens - Ana Paula Maia 

24 - New York Trilogy - Paul Auster

25 - The Adventures of Huckleberry Finn - Mark Twain


(Os livros em negrito são os que mais gostei!)

(Existe uma circularidade tragi-cômica no tempo da vida. E, assim como 2021, comecei 2023 lendo uma triologia de ficção científica maravilhosa e logo mais escrevo sobre ela aqui.)

O Apanhador no Campo de Centeio: o privilégio de viver um dos seus livros preferidos

Minha vida ultimamente tem funcionado na contagem regressiva. Desde que começou a Copa, minha rotina se tornou caótica - e se está caótica, é porque não há rotina. Final de semestre e por isso provas, trabalhos e horários malucos. O inverno se aproxima, as temperaturas caíram, encontrinhos de final de ano, feriado de Thanksgiving, Covid por uma semana, arrumação de mala para a viagem ao Brasil, compras de presente de Natal e, no meio de tudo isso, jogos do Brasil e uma Copa do mundo. Além das outras coisas que vão acontecendo in between

Por isso, fui lendo alguns livros e não consegui registrá-los aqui. Minha resolução de escrever tudo em inglês não ajudou, porque meu fluxo de pensamento é em português. Eu precisaria de tempo de escrita e revisão, o que não teve. Minha cabeça também esteve mais para a Copa e a seleção brasileira, então meu cérebro suprimiu a parte de vivência norte-americana. Por isso, fiquei adiando, adiando, e não escrevi aqui no diário as últimas leituras, mesmo elas tendo ficado entre as melhores do ano. 

Como a bomba relógio está prestes a explodir e o ano acabar, resolvi escrever em português mesmo uma breve - bastante breve - resenha desses livros. Não terá revisão. Ou esse registro sai de uma vez de forma natural, ou não sairá. Não há opção de cesariana. Começo essa maratona com uma leitura de dois meses atrás. 

Minha fantasia de Halloween


Li The Catcher in the Rye em Outubro para me fantasiar de Holden Caulfield no Halloween. Foi uma leitura tão especial e significativa, que queria escrever um texto a sua altura. Mas é claro que a expectativa de fazer algo perfeito só significou a procrastinação eterna. 

A primeira vez que li O Apanhador no Campo de Centeio foi em 2020, antes de me mudar para os EUA, quando eu ainda não conhecia muito bem a literatura americana nem estava acostumada a ler ficção em inglês. Na época, eu já havia gostado muito do narrador e como eu tenho uma grande afinidade por romances de formação, o livro de J.D. Salinger conquistou um lugarzinho no meu coração. 


Retomei a leitura no kindle, mas depois de um ano e meio morando em Nova York, o livro ganhou uma dimensão completamente nova e até comprei o paperback da belíssima e icônica capa vermelha.  Conforme ia avançando na leitura, pude ir caminhando pela cidade com Holden. Apesar do livro ter sido publicado há 70 anos e a cidade de Nova York ter sofrido grandes mudanças, muita coisa continua ainda igual: a caminhada pela quinta avenida, o bar em Greenwhich Village, a loja de discos na Broadway, o Radio City Music Hall, a Grand Station, o Carrossel do Central Park, o zoológico, etc. 

É um livro mais triste do que eu lembrava. A solidão urbana, o luto pela morte do irmão, o deslocamento social ao descobrir o abismo que separa a "essência" de um indivíduo e seu lugar social, as regras de etiqueta, o "ser" quem você é e o que se espera de você... Tudo isso na cabeça de um adolescente andando numa cidade adulta e agressiva, num frio de dezembro. Acho que não importa qual a idade que lemos The Catcher in the Rye, todos somos um pouco Holden Caulfield, às vezes um pouco mais outras vezes um pouco menos. 

John Lennon


Quando falei pro meu irmão que estava lendo The Catcher in the Rye e que ia me vestir de Holden Caulfield para a festa de Halloween, ele me mandou um trecho de um episódio de South Park. Os personagems do desenho animado tinham recebido como lição de casa ler esta obra que, como o professor disse, era "polêmica".  Um dos personagens, ao terminar o livro, pega uma faca de cozinha e sai dizendo que quer matar John Lennon que, é óbvio, já havia sido morto. Foi aí que eu descobri que o assassino de John Lennon, Mark David Chapman, disse que se inspirou em Holden Caulfield para matar o compositor, pois John Lennon seria um grande "phony" e, portanto, alguém que Holden detestaria. 



Eu lamento muito que J.D. Salinger tenha testemunhado alguém dizer que seu livro foi usado como inspiração de um assassinato. E é na verdade isso que o episódio de South Park discute: como as pessoas tiram interpretaçãos bizarras quando procuram grandes significados e mensagens em textos de ficção que - pasmem - às vezes não querem dizer nada.

Se eu pudesse, eu diria para Salinger que seu livro, na verdade, se utiliza do mundo adulto corrompido para valorizar a inocência infantil. E que, ao contrário de aniquilar e matar o mundo adulto hipócrita, ele faz a gente recuperar e valorizar a simplicidade que tínhamos quando éramos crianças. 


Minha fantasia de Holden Caulfield na festa de Halloween da New York Public Library


Depois de me fantasiar de Holden para a festa de Halloween, tirar várias fotos com uma cara beeem triste e maquiagem embaixo dos olhos, no final de semana seguinte fomos ao Carrossel no Central Park. Eu nunca teria ido dar uma volta no Carrossel se não fosse The Catcher in the Rye. E sabe de uma coisa? Foi uma das experiências mais legais que eu tive em Nova York. Me emocionei muito poder viver uma parte tão linda daquele livro. É um privilégio poder viver uma grande leitura. 


Minha alegria depois de dar uma volta no carrossel e ainda ganhar uma balinha de trick or treat. 

Hollywood


JD Salinger e seus descendentes nunca autorizaram uma adaptação de The Catcher in the Rye. Por isso, apesar de seu status na literatura norte-americana, nunca foi feito um filme do livro. Inclusive, na própria narrativa, há passagens onde o narrador, Holden, expõe sua opinião sobre Hollywood, dizendo que filmes são "phonys". Ele diz que seu irmão é um "vendido", pois deixou de escrever suas estórias e mudou-se para Hollywood para escrever roteiros de filme. 

Para além dessa questão metalinguística sobre a arte literária e da dramaturgia, em sua vida pessoal, J.D. Salinger sofreu uma grande decepção amorosa que envolveu o mundo do cinema. Aos 23 anos, Salinger se apaixonou pela moça de 16 anos Oona O'Neill, filha de um grande e famoso dramaturgo norte-americano, Eugene O'Neill

Eles começaram a se relacionar, e quando Salinger partiu para lutar na Segunda Guerra Mundial, ele escreveu e enviou a sua amada muitas cartas de amor. Tudo acabou, no entanto, quando Oona tornou-se Lady Chaplin, ao se casar com Charlie Chaplin, que tinha então 54 anos. Dizem as más línguas que Salinger ficou devastado e isso explicaria seu "ranço" com a sétima arte. 

Mas isso é só uma curiosidade! Geralmente sou defensora de separar o artista da obra. O Apanhador no Campo de Centeio é um livro incrível por si só e essa história envolvendo o autor é muito interessante porque envolvem grandes nomes da dramaturgia. 

Com certeza O Apanhador no Campo de Centeio é um dos meus livros favoritos, que quero ler novamente em outros momentos da minha vida. Aí, quem sabe, falarei um pouco sobre o título. Pesquisei um pouco sobre ele e também achei muito curioso, mas fica para uma próxma vez. 

Se por acaso você leu até aqui, gostou e ficou com vontade de ler O Apanhador no Campo de Centeio, clique aqui para comprar pela minha lojinha de afiliados da Amazon. Obrigada!

The Road, by Cormac McCarthy: a messianic tale in a post-apocalyptic world

For the past two years, I have been writing book reviews on this blog, which is like a notebook for me. The beauty of notebooks is the freedom they give us to do everything we want on their blank pages. From now on, I'll continue writing about my reading experiences and book reviews, but I will also try to practice my English writing. 

I have been living in the US for a while, and maybe I'll stay here for a little longer. I want to start practicing and improving my writing in this foreign language. That being said, I'm talking today about The Road, by Cormac McCarthy, the same author of No Country for Old Men (Onde os fracos não tem vez), which movie adaptation won the Best Picture Oscar in 2007. 

This book was a surprise. My husband bought it a long time ago from a second-hand bookseller. I knew neither the book nor the author and never got any closer. All these past months the book has been wandering around my house. First, on the nightstand for a while, waiting for Allan to pick it up. When we noticed it wouldn't be read any time soon, it went to the TV stand, in the living room. Finally, I was putting it on a small shelf cart I bought to organize the books when I gave it a quick look and got interested.


Probably because I read so many classic books from the 19th century in the past few months, I'm now eager to read contemporary books. The Road was published in 2006 and became a national bestseller in the US. In Brazil, A Estrada was published in 2007 by Companhia das Letras. 


It is a post-apocalyptic tale about a father and his son trying to survive in a destroyed world. We are not told what has happened. A nuclear war? A meteor? We only know that everybody is dead and the world is burnt. There is a thick and dark atmosphere with little sunlight. It rains and snows. The weather is very cold and everything is covered by ashes. The few survivors have to wear masks and fight for food in a dead world where there are no more animals and plants. Not only humans have been extinct, but also cows, chickens, birds, and fishes. The soil is contaminated and it is not possible to grow vegetables. All they have to survive is canned food that, in one way or another, has outlived the end of the world. 

The man and his son walk on the road toward the south, where they expect it to be warmer. We follow them on their journey. They don't have names. No one who appears in the tale is named. In a deserted world, there are no individuals. Not even many words are needed. McCarthy's writing is almost a poem, with very direct short sentences. 

We follow the father trying to save his son at all costs from famine, cold, lack of sun, killers, thieves, and cannibals. Besides his physical integrity, the father also tries to save his son's goodness, hope, and innocent view of people. I suppose the boy is around 8 or 10 years old and he was born in this post-apocalyptical world. From his mother, we know very little. Only a few memories the father has of her. 

Many subjects are discussed in this journey: the love of a father and son, cannibalism, humanity, the relationship between man and nature, and hope - or the lack of it. What touched me the most though was how the annihilation of the world is, in fact, related to the disappearance of memory. Constantly the boy asks his father "what is this?" and the man slowly passes to him what he knows and remembers. However, at one point, he realizes that it is impossible to talk and live in that new world, without regretting the loss of the old world. Their reality is the consequence of the death of what it was. He can't show his son what it is in other terms other than death, loss, and disappearance. 

In a dead world, where can one find food? When famine, can humanity and hope endure? 

Despite all the post-apocalyptic horror, the book has an optimistic message - and a kind of messianic too. It is supposed that the boy carries "the fire", and they have a major goal to fulfill, bigger than themselves. Exactly like it is not revealed how the world ended up in that way, this "fire" the boy carries isn't much explored either. In The Road, everything is only suggested, not explained. 

I liked it very much. I do recommend it! You can find it on Amazon Brasil and Amazon US. There is also a movie released in 2009, I think it is available on Amazon Prime, but I haven't seen it yet. 

The Tender Bar, by J.H. Moehringer: a coming-of-age novel inspired by Scott Fitzgerald and the men from the bar

It has been really difficult for me to engage in writing the last few weeks. I've been trying to write this review about The Tender Bar for a while and I couldn't. One of the reasons I can think of is this bilingual reality I've been living in the last year: while I speak and think in Portuguese, I listen and read mostly in English. 

The last books I read were in English. That's ok, but writing in Portuguese about this last one has been a little tricky. The Tender Bar, a memoir by the American journalist J.R. Moehringer, was published in 2006 and it's about the childhood and early adult years of a man who was born and raised in Long Island, NYC. Not a classical book, like the others I've read before. 

In this one, the language was very simple. Except for the chapters in which he talks about baseball (oh, my God! I think baseball is so boring!), structures and vocabulary were easy to understand. So I think that while I read this book, I  thought about it in English too - not in my mother language. Maybe that's the reason why writing about it in Portuguese has been an impossible task (I know there might be other reasons, like the Brazilian elections, but let's not talk about it now). So, I decided I should give it a try and write this review in the same language I read it. Please, English speakers native who might be reading this review, forgive me for any mistake.


The Tender Bar was a very nice surprise. I didn't know the author and I ended up downloading the e-book because I saw there would be a reading club meeting at Central Park to discuss it. As usual, because I'm such a slow reader, I took longer to finish it and I didn't go to the meeting. I don't regret it, there will be others, but I'm glad I finished the book anyway. 

The book is divided into two parts. The first one wasn't my favorite, although the issues the author brings up are very important and delicate: a child in the 70s who grew up in a dysfunctional family in the outskirts of NYC, and whose closest male examples were his grandparent, his uncle, and his uncle's friends. 

J.R. Moehringer tells us about his life in his grandparent's decadent house, a place where his mother, after getting a divorce from his father, would always come back for lacking money and having nowhere else to go. A place where he lived with his aunt and several cousins (who were always running away from their violent husband and father), his uncle who worked at a bar, his dear grandmother and his grandfather who didn't give enough money for food to his wife, ignored the maintenance of the house and, every other weekend, had suspicious going outs. 

We are introduced to two opposite worlds. First, the house, or the domestic life, where men were absent. When they were present, they were violent, drunk, or mean to women and children. The place where men were unhappy and always trying to run away from. Second, "the bar". The Dickens, later called Publicans, was literally the place where people hung out and drank alcohol, and a metaphor for the "outside world", the "non-family world", the opposition of domestic life. 

This is the environment described in the first part of the book, in which the young J.R. Moehringer talks about how much he missed his father, the financial difficulties his single mother, judged by her own family, suffers to keep up with a job or even an apartment for them, the uncle who is either drunk or dealing with bets, and the grandfather who is mean to his grandmother, mother and aunt. The Moehringer boy assumes to himself his father role of taking care of his mother, at the same time he admires the men from the Publicans and wishes to be just like them. 

The second part of the book I liked very much. We follow his almost-accidental-approval at Yale, where he feels completely dislocated when comparing himself with all those boys and girls from rich and well-educated families. Then, he tells about his first job at The New York Times and his romantic life. The most important though is his realization that the Publicans, where he spent most of his days and considered a place of comfort, amusement, and manhood, was leading him to repeat the same mistakes the men of his early life committed with his family and himself. 

It is a beautiful book. The thing about memoirs, unlike autobiographies, is that they allow the author to select what and how they want to narrate. They have more freedom. I liked very much how J.R. Moehringer talks about manhood, alcoholism, and family. We see many women and women authors constantly talking about marriage, maternity, domestic life, and what it means to be a woman, but we rarely see men talking about these issues. Moehringer discusses what is to be a fatherless boy and his lonely pursuit to know what it means to be a man when all he has in his surroundings are broken men. 

Another very interesting subject brought up by the author is his discovery as a writer. It starts in his childhood and his interest in books and encyclopedias kept in a cabinet in his grandparent's house. Then, in his teenage years, he starts working part-time in a bookshop, in Arizona, and the owners introduce him to American Literature. At Yale he tries to "upgrade" his acknowledgment in literature and writing, but he has absolutely no academic success. All he has is his love for literature, his admiration for the great American authors, and his will of writing about the world he knew and those men from the bar. 

Moehringer starts his narrative with The Great Gatsby, because Manhasset, the place in Long Island where he was born and lived, was F. Scott Fitzgerald's inspiration for East Egg. Other authors and characters are mentioned in the book, from Charles Dickens to Emily Dickinson. It's very delightful to read about this "high literature" mixed with bar conversations and the most ordinary people and events from the outskirts of NYC. 

Absolutely a beautiful contemporary coming-of-age novel that I recommend. 

If you're not interested in reading more than 400 hundred pages, there is an adaptation on Amazon Prime released in 2021, directed by George Clooney. I haven't seen it yet, but I intend to. 


No Brasil, o livro foi to livro foi lançado em 2007, pela Editora Nova Fronteira, com o título Bar Doce Lar. Está disponível na Amazon Brasil. Se você leu até aqui, se interessou e gostaria de ler em português mesmo, clica nesse link aqui:  Bar Doce Lar, de J.R. Moehringer