#estacaoblogagem - O naipe de paus que habita comigo

Com a dissertação de mestrado recém entregue, retomei este espaço para a prática da escrita em maio, no auge do meu isolamento social, medo e paranóia com a pandemia. De manhã eu estava higienizando com álcool em gel o novo frasco de álcool em gel e a tarde estava com a plataforma do blogger aberta escrevendo. 

Como tenho lido mais literatura e me interessado mais por outros blogs, encontrei alguns perfis literários que tem incentivado a volta da blogagem - pois a verdade é que todo mundo se cansou já das redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram... Estão todos vivinhos da silva (eu sou uma viciada), mas já deu um pouco, né? Nos saturamos tanto destas redes e plataformas que estamos nostálgicos. (Imagina o retorno do fotolog? #saudades #SQN)

 

Por isso, vou participar da #estacaoblogagem. Isso é irônico demais, porque nas redes sociais eu nunca participei de nenhuma hashtag. Nem daquelas com as quais me identificava ideologicamente. Primeiro pensamento que me incentivou a escrever esta semana para este tema foi: pare de ser tão autocrítica, Giovana. Não vale nota e tampouco um prêmio. Não se trata de uma avaliação de conhecimento ou competição de escrita. Simplesmente escreva sem medo de não ter um texto ótimo. É seu blog. O máximo de ruim que pode acontecer é: 1) ninguém entrar e ver e 2) a pessoa ler, achar ruim, sair e nunca mais voltar. O resto continua igual. 

O segundo pensamento decisivo foi a identificação com o tema. Quando olhei a proposta da primeira semana, não foi difícil pensar sobre o que eu escreveria:

 

É curioso, mas na minha cabeça fogo está sempre associado ao signo de áries que, por sua vez, me remete ao Allan. Os arianos sempre foram muito presentes em minha vida. Posso dizer que sempre habitei com um. Minha mãe, de 24 de março, e meu marido, de 4 de abril, são, cada um do seu jeitinho, típicos arianos que, ao mesmo tempo que me deixam louca (!!!) me tiram da zona do conforto e me jogam sempre para frente. Eu, uma virginiana que tudo o que procura é um lugar quentinho e confortável, para fincar raízes e nunca mais ser incomodada. Se não fosse o Allan, eu com certeza teria ficado parada há muito tempo num lugar só e, aos poucos, iria secando, definhando e virando uma árvore triste e feia. 

As vezes, neste blog, eu me perco um pouco na melancolia. Acho que as palavras são bonitas quando são melancólicas. Quando terminei "De Amor e Trevas", Amos Oz, eu dizia chorando que este tinha sido o livro mais lindo que havia lido em toda a minha vida. Depois, senti o mesmo com "Talvez Esther", Katya Petrovskaya, Primo Levi e todos da Svetlana Aleksiévitch. O Allan diz que sou aficionada pelo século XX. Sou mesmo uma apaixonada. Há, ao mesmo tempo, muita tristeza e beleza num espaço curtíssimo de tempo. 

A minha sorte é que, apesar de eu ser um naipe sem graça, ao meu lado eu tenho um "naipe impulsionador e dinâmico" o tempo todo. As vezes a gente briga e se estranha, mas a verdade é que se não fosse esse amor que começou como um namoro de adolescentes e se transformou em um enorme companheirismo, eu não teria chegando onde cheguei. Não teria, aliás, me transformado na mulher que sou.

Porque essa energia do fogo, ela não é sempre igual. As chamas têm, a cada momento, formas diferentes. O impulso não é apenas para frente - evolutivo, mas é também transformador. Ao mesmo tempo que temos um papel ativo nas chamas de uma fogueira - ora alimentamos ela com mais carvão e ela cresce, ora deixamos de lado e ela diminui - temos também um papel passivo e nos sentimos mais ou menos aquecidos. E nesses processos constantes - diário - eu fui me transformando numa mulher de 30 anos completamente diferente do que eu imaginava aos 16. 

E a verdade? Eu tenho muito orgulho do que me tornei. Acho que o que a Giovana adolescente pensava da Giovana dos 30 era justamente uma mulher-árvore triste, definhando, menos enraizada e mais presa ao solo. Meu naipe de paus, com sua energia e seu impulso, me mostrou mundos e possibilidades que a Giovana-medrosa-dos-16 nunca imaginaria. Hoje eu penso sim que criei raízes - como toda boa virginiana - mas que, com ajuda do Allan, elas são como as raízes das árvores que andam do Senhor dos Anéis. Minhas raízes estão mais nas convicções e nos sentimentos do que em um lugar físico e devo isso graças à vontade de desbravamento, do novo e da energia do naipe de paus que habita comigo.

2 comentários:

  1. que texto lindo e apaixonado, giovana! <3 sei bem o que você quer dizer em relação aos arianos na sua vida. minha mãe também é de áries e ela tem uma energia que eu nunca vou entender de onde brota, hahah. mas acho que é bem o que você disse, precisamos de um empurrão, às vezes, para sairmos dessa inércia. eu sou aquariana, mas o ascendente tá em peixes, então, quando entro nesse caminho da melancolia, acaba exigindo muito de mim. e é bom que tenhamos alguém do nosso lado pra lembrar que certas coisas não valem a pena se apegar. <3

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