Apesar dos pesares, 2020 foi um ano de ótimas leituras - uma retrospectiva literária

Não achei que a retomada deste blog chegaria tão longe. O nome "um caderno esquecido" é justamente porque eu venho até ele, escrevo um pouco, abandono-o para, algum tempo depois, lembrar que ele existe e que é interessante escrever sem compromissos. (Obrigada, Google, por possibilitar isso.)

Lá em maio, auge do isolamento social, quando todos os dias pareciam exatamente iguais e o Nelson Teich vampiresco ainda era o Ministro da Saúde, eu tive a ideia de ocupar um pouco o tempo livre escrevendo no blog. Primeiro como exercício de escrita. Segundo, como uma tentativa de registrar os livros lidos e poder, de alguma forma, fazer uma reflexão sobre minhas leituras feitas fora do meio acadêmico. 

Na época, eu tinha já depositado minha dissertação e estava esperando a data da defesa. Eu estava com saudades do exercício de ler, refletir, grifar, escrever, marcar páginas com post-it, enfim... de estudar. O blog pareceu uma boa oportunidade para isso. 

Agora, a pandemia não acabou, mas o isolamento social sim (verdade infeliz). Eu mesma voltei a realizar parte das minhas atividades rotineiras - como ir para a academia -, mas o blog continuou resistente. Isso se deve a dois fatores. 

1. O ato de escrever - esta prática de fixação e estudo - me permitiu fazer conexões entre as leituras e diferentes livros que não seriam possíveis se eu não estivesse dedicando tempo e esforço mental para isso. Como antes, durante a leitura eu teria vivido intensamente a experiência narrativa, mas depois que o livro fosse fechado, a memória seria logo guardada junto na estante e lá esquecida. Escrever sobre o que li, mesmo que seja um breve comentário, ajuda a lembrar, categorizar e conectar com outras referências.

2. Outro motivo foi a comunidade de leitores e escritores de blogs que fui conhecendo na internet. Perfis e blogs literários que me ajudaram a descobrir novos autores ou me estimularam a ler autores clássicos que eu já conhecia, mas não teria tido a iniciativa de ler. Tudo isso tem enriquecido o leque de leituras que tenho feito e que, na minha opinião, já é bastante eclético. Além do fato de que é legal trocar impressões e opiniões sobre os livros lidos em comum. Já comentei em outros posts a importância dos clubes de Leitura Coletiva para a escolha das últimas obras escolhidas. Deixo novamente registrado os dois mais importantes que tenho acompanhado: o Querido Clássico e a Gabi Barbosa

Lembrando também que passei a conhecer outros blogueiros, interagir com outras pessoas que escrevem e publicam e até participei da campanha Estação Blogagem - o que foi muito legal!

Agora, nestes últimos dias de 2020, o blog possibilitou uma retrospectiva, pois eu nunca conseguiria lembrar de todos os títulos apenas de memória. Pode ser que eu tenha deixado escapar alguma leitura feita antes de maio, mas seria uma ou duas. 

No final, fiquei muito orgulhosa com a lista. Eu nunca fui atrás de número, metas, estilo ou autores específicos. Sempre fui fluindo com o que eu sentia vontade. E quantidade - em se tratando de livros - é tosco, pois as experiências são diferentes.  O Jogo da Amarelinha, por exemplo, tem número de páginas similar a O Pintassilgo, mas o primeiro foi uma viagem prazerosa no começo, difícil e vagarosa no meio e, no final, mindblowing. Levei mais de um mês para ler, enquanto O Pintassilgo li em muito menos tempo e a experiência foi bem "chuchu". Não foi ruim, mas também não foi espetacular.

Achei legal também a variedade de gênero e nacionalidade de autores, estilos e escolas literárias. Com predominância, é claro, do século XX - meu século favorito. Se eu tivesse paciência e boa vontade, faria uma tabela no excel com as informações de todos os livros, apenas por curiosidade estatística. Mas não preciso disso agora. Da lista abaixo, em negrito estão os meus favoritos do 2020.

1. Um Artista do Mundo Flutuante - Kazuo Ishiguro

2. Senhor das Moscas - William Golding

3. O Talentoso Ripley - Patricia Highsmith

4. Quinquilharias Nakano - Hiromi Kawakami

5. Miso Soup - Ryu Murakami

6. O Jardim Secreto - Frances Hodgson Burnett 

7. Imunidade - Eula Biss

8. A outra volta do parafuso -  Henry James

9. Dr. Jekyll and Mr. Hyde - Robert Louis Stevenson

10. Outras Mentes -  Peter Godfrey-Smith

11. Rita Lee - uma autobiografia

12. A Assombração da Casa da Colina - Shirley Jackson

13. Enterre seus Mortos - Ana Paula Maia

14. O Apanhador no Campo de Centeio -  J.D. Salinger

15. É isto um homem? - Primo Levi

16. A Trégua - Primo Levi

17. O Complexo de Portnoy - Philip Roth

18. Jorge Amado: uma biografia - Josélia Aguiar

19. O fim do homem soviético - Svetlana Aleksiévitch

20. Os irmãos Karamazov - Fiódor Dostoiévski

21. Moby Dick - Herman Melville

22. Caçando Carneiros - Haruki Murakami

23. Sobre os Ossos dos Mortos - Olga Tokarczuk

24. O Pintassilgo - Donna Tartt

25. Homem Comum - Philip Roth

26. Jogo da Amarelinha - Julio Cortázar

27. 1Q84 Vols. 1, 2 e 3 - Haruki Murakami

28. Becoming - Michelle Obama 

Entrei 2020 lendo Becoming e logo comecei a trilogia de 1Q84, do japonês Haruki Murakami. Como classificá-lo? Fantasia, realismo mágico, ficção científica? De qualquer maneira, vou terminar o ano e iniciar 2021 lendo O Problema dos Três Corpos, este sim oficialmente classificado como ficção científico, do chinês Cixin Liu. Apenas uma curiosa coincidência: trilogias de autores contemporâneos orientais. 


Apesar de todos os pesares de 2020, fiz ótimas leituras e espero que 2021 seja também recheado de bons livros. 

(Outra curiosidade: por ironia do destino meu texto mais visualizado e comentado não foi relacionado à nenhuma leitura, mas ao jogo Last of Us II.)

Um comentário:

  1. Ah, que legal! Amei o post! E se depender de mim este caderno não será mais esquecido em um canto qualquer, não!!! E, realmente, as leituras e o blog ajudaram muito a passar por esse ano louco!!!! Bjks

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