O Tempo

Parece um pouco estranho falar sobre o tempo. É algo tão abstrato mas que está presente em todos os apectos de qualquer ser vivo. Primeiramente poderíamos nos perguntar: qual o sentido em estudar o tempo sendo ele nada importante para os animais que não sejam os seres humanos? Pois bem, o ser humano é o único animal que pára para pensar no tempo e o problematiza. Mas ainda dentro desse grupo tão numeroso, há as comunidades que consideram o tempo como cíclico e por isso não há motivo de querer problematizá-lo criando métodos de contagem e registros dos acontecimentos para gerações futuras... Porque tudo se repete.

O curioso é que já foi comprovado que a escrita não surgiu unicamente num lugar e depois se irradiou. Pelo contrário, ela foi surgindo em diferentes lugares sem necessariamente algum contato com outros povos e culturas que já haviam inventado a escrita. E essas sociedades são justamente aquelas que problematizavam o tempo e assim, acharam uma forma de registrar acontecimentos e pensamentos, que pudessem se exteriorizar da memória humana, para as futuras gerações. Mas como sempre, há também excessões, e existe aquelas sociedades que problematizam o tempo e mesmo assim não têm escrita: elas guardam a memória de si na mente de alguém do grupo, que passa sempre para a outra geração todo o conhecimento histórico que tem e assim sucessivamente. Assim como a sociedade Inca, cujos domínios eram de considerável tamanho, era uma sociedade complexa e mesmo assim não possuem numerosos registros escritos.

Outro ponto discutido na aula de quinta-feira em Metodologia da Historia que me chamou a atenção foi a multiplicidade de faces que o tempo tem. Será clichê eu dizer que o tempo é relativo, mas é mesmo. Diante de mudanças políticas o tempo é curto. Tudo acontece ao mesmo tempo e as informações também são transmitidas ao mesmo tempo em que acontecem (privilégio de nossa geração); dois dias sem me informar sobre o senado, a câmara, o presidente e outros, já me sinto desinformada e um pouco deslocada da realidade política de tanto que certos aspectos mudaram. Em uma guerra o tempo torna-se médio, lentamente ritmado. Tudo muda constamente mas ao mesmo tempo ela perdura por um certo período as vezes maior do que outros. Ou, ao contrário da história factual política, cujos acontecimentos são muito mais individuais, numa guerra o domínio de responsabilidades coletivas têm um peso muito maior. Finalmente, há também o tempo lento que torna a história quase que imóvel. O homem não consegue acompanhar as mudanças geográficas que acontecem ao seu redor, nem a evoluação das espécies. Acontecimentos como estes são imperceptíveis ao ser humano.

Diante disso, o historiador se assume na tarefa de articular todas essas faces do tempo levando em consideração suas particularidades e o objeto/tema a ser estudado. Só mais uma coisa: adorei a aula de ontem!

Ibérica - 1° parte

Visando facilitar meu trabalho de História Ibérica I, irei postando aos poucos, tudo o que eu achar importante para a formatação de minha pequena monografia. Com isso, ao término das pesquisas, terei um conjunto de posts sobre um mesmo assunto que não deixará eu esquecer informações cruciais. O trabalho se trata sobre as políticas tomadas por D. João II e, posteriormente, por D. Manuel I, ambos reis de Portugal, diante de uma massa de judeus expulsos da Espanha pela Inquisição que lá já havia se instituído. Nesse post, tudo que será dito, foi baseado na leitura dos primeiros capítulos do livro Inquisição e Cristãos-Novos de Antônio José Saraiva.

A Inquisição significou a aliança entre o poder monárquico e a Igreja, que agiu de maneiras diferentes em cada nação em que se instituiu. Os judeus, por exemplo, é um problema exclusivamente ibérico (região na qual coexistiram três religiões por muito tempo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo); apesar de ocuparem papel de destaque na economia espanhola e, principalmente, portuguesa. Isso pode ser um indício de que a população cristã sofria um atraso econômico e social nessa parte da Europa: a burguesia cristã não tinha condições de enfrentar, muito menos substituir, a burguesia judaica.
Os judeus também exerciam importante função social. Apesar de serem protegidos pelos reis, permaneciam às margens da sociedade: eram eles quem praticavam a usura, cobravam impostos, e viviam entre os cristãos para não esquecerem que pertenciam à linhagem que crucificou Jesus Cristo. Assim, desde a Idade Média, os judeus foram considerados como estranhos que não se misturavam, como um povo reservado e quieto que culminou com o famoso Holocausto no século XX.
Diante de tudo isso, a perseguição aos judeus na Espanha começa em 1391, em 1449 é feita a primeira lei de "limpeza de sangue", em 1478 os Reis Católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela) instituem a Inquisição em Castela e, finalmente, em 1491 é ordenada a expulsão dos judeus num prazo de 4 meses, muitos dos quais, se dirigem à Portugal. Esta, cobrou impostos de recebimento, um pouco menor para judeus que realizavam determinados trabalhos manuais com ferro, na promessa que dentro de um determinado prazo seria lhes dado um navio para irem onde quisessem. Bom, ao final desse prazo, uma parte embarcou para o norte da África e a que ficou foi reduzida à escravidão, vendida ou doada pelo rei Dom João II.
Em 1495, Dom Manuel restitui a liberdade aos judeus, mas logo depois, em condição de casamento, dá um prazo de mais de 10 meses (em contraposição a Espanha, que deu um prazo de 4 meses) para a expulsão dos judeus de Portugal. Durante esse período, D. Manuel separou as crianças menores de 14 anos de suas famílias para serem criadas por famílias cristãs e isenta de qualquer acusação religiosa o povo judeu. No dia da expulsão, quando estavam no porto, um bando de frades, jogou água sobre os judeus e assim os batizaram à força. Diante disso, poucos conseguem embarcar.
A partir disso, D. Manuel cria políticas de integração entre os cristãos-velhos e os cristãos-novos (judeus que foram batizados), além de prorrogar o tempo de proibição de acusações de práticas judaicas, proibir a emigração de cristãos-novos e criar leis que acabassem com a discrminação. Dom Manuel parece assim um rei muito bonzinho, mas na verdade ele nada mais é do que bastante maquiavélico. Proibiu as emigrações porque os reis da Espanha queriam os cristãos novos de volta e, em 1515, em resposta ao Rei da Espanha, pede ao seu correspondente em Roma para que peça ao Papa para instituir uma Inquisição em Portugal alegando que os cristãos-novos da Espanha estavam sendo um mau exemplo aos cristãos-novos portugueses por praticarem o judaísmo escondido e agirem como rebeldes.
Ao término de seu reinado, a Inquisição ainda não havia sido instituida em Portugal e conforme o que pretendia sua legislação, houve uma assimilação dos antigo povo judeu como cristãos pelos portugueses (comprovado pelos inúmeros casamentos entre cristãos-novos e velhos)

Eu amo tudo o que foi

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

Fernando Pessoa
1931

Como meu príncipe me fala, se não fosse tudo o que aconteceu, possivelmente não teríamos nos encontrado, e mesmo que tivessemos nos encontrado, capaz que tudo o que aconteceu entre agente (que foi simplesmente perfeito) não teria acontecido como ocorreu. Por isso que eu amo tudo o que foi e, principalmente, a dor que já não me dói.

Além disso, constantemente me descubro um pouco mais, e me amo apesar de todos os meus defeitos. E assim, a antiga e errônea fé se transforma numa nova e certa fé!

Feliz Páscoa à todos. Não sou uma pessoa muito comemorativa, mas desejo que todos possam comer chocolates. Afinal, essa é o único momento do ano que podemos passar mal de tanto comer chocolate e ainda engordar e ser vítima de um ataque de espinhas em conjunto, portanto, ninguém julga ninguém.

Eu adoro a língua portuguesa. Não porque me dou bem com as regras da gramática, nem porque sempre tive boas notas nessa disciplina. Mas porque não é uma língua técnica. Ela é complexa, sonora e propícia a bons poemas e lindas poesias.