A morte de Artemio Cruz - resenha


“Assim, diante da morte há duas atitudes: uma, para a frente, que a concebe como criação; outra, de regresso, que se expressa como fascínio pelo nada ou como nostalgia do limbo. (...), dois poetas mexicanos, José Gorostiza e Xavier Villaurrutia, encarnam a segunda destas diretrizes. Se para Gorostiza, a vida é ‘uma morte sem fim’, um contínuo abismar-se em direção ao nada, para Villautia, a vida é apenas ‘nostalgia da morte’.”[1]

Em A morte de Artemio Cruz, Carlos Fuentes constrói um personagem que, aos setenta e um anos de idade, encontra-se diante de seus últimos momentos de vida. Defronte da morte, Artemio Cruz refugia-se em seu passado e, através da memória, revive episódios de sua existência em que, diante do perigo ou de fortes emoções, sente-se cheio de vida. Por meio de uma narrativa não linear, com níveis de tempo, espaço e consciência superpostos, múltiplas vozes narrativas constroem o fluxo de consciência de um homem moribundo que, revivendo seu passado, procura um sentido para sua vida e, consequentemente, para sua morte. Mas Artemio Cruz é mais do que isso. Através de seu protagonista, Carlos Fuentes constrói uma visão desencantada da Revolução Mexicana, ao contrário do que se tinha feito nos anos posteriores ao movimento revolucionário, que construiu a Revolução como mito fundador da nacionalidade mexicana. Como é construída esta visão pessimista e desencantada do México pós-revolucionário e, também, como a Revolução em si fora um projeto sem grandes vínculos ideológicos, é o que tentaremos explorar ao longo do texto.
Filho bastardo de um senhor de terras sem escrúpulos, integrante de uma família conservadora e em decadência do fim do século XIX do México, Artemio Cruz é criado até os seus treze anos pelo seu tio materno, Lunero e, depois de matar acidentalmente seu tio paterno, foge da fazenda onde vivia. Durante sua juventude e impulsionado pelo seu professor Sebástian, Artemio Cruz participa da Revolução Mexicana. Ora lutando pelo exército viilista, ora lutando pelas forças de Carranza, nunca teve muita clareza de seu papel no movimento e nem o que o movimento revolucionário representava em si. Ao fim da Revolução, Artemio se une a família Bernal, renovando a antiga ordem oligárquica sustentada pelo governo de Porfirio Díaz, apropriando-se do discurso revolucionário de reforma agrária, para aumentar seu poder sobre outros e sobre suas terras.
A narrativa é construída em três temporalidades e narradores que se entrecruzam. A realidade mais imediata, aquela que circunda Artemio Cruz moribundo na cama, é narrada no presente e em primeira pessoa. Em outras palavras, o eu percebe a realidade física ao seu redor. Para objetos que se colocam a uma distância maior no tempo, ou seja, episódios e eventos da vida de Artemio Cruz que aconteceram no passado, e a partir dos quais podemos construir a trajetória de sua vida, a narrativa é em terceira pessoa. Em um terceiro momento, o protagonista torna-se objeto de observação e utiliza-se o futuro como tempo verbal. Aqui, quem toma a palavra é um narrador onisciente, ou a supraconsciência de Artemio Cruz, que funciona como um elemento que dá coerência a esta fragmentação de vozes e tempos e é capaz de assegurar aspectos da realidade do protagonista que escapariam de sua percepção consciente. Utilizando-se do tempo verbal no futuro, a supraconsciência procura fazer com que Artemio Cruz reflita sobre as suas decisões e reexamine seu passado, satisfazendo, ainda, uma ânsia do protagonista em prolongar sua vida como se fosse possível tomar outras decisões no futuro.
Diante de uma realidade complexa e múltipla, Carlos Fuentes inova na linguagem de seu romance. A confusão que os diversos níveis temporais, espaciais e de consciência superpostos causam na narrativa, se assemelham a confusão causada pela ausência de um programa ideológico no percurso da Revolução Mexicana e as consequências que esta lacuna trouxe ao México pós-revolucionário. Durante sua participação no movimento, Artemio Cruz se guiava pelas circunstâncias. Diante de uma batalha, seu ímpeto é de fugir do combate que está prestes a enfrentar; em outro momento, luta ao lado dos que antes eram seus inimigos e, ao ser pego, propõe uma batalha pessoal contra o general que o aprisionou. Não se sabe pelo que Cruz está lutando, nenhuma ideologia o guia e mudar de lado é uma questão de sobrevivência e circunstância. Além disso, quando cessa o movimento e Artemio se une aos Bernal, uma família tradicionalmente oligárquica, o discurso de reforma agrária encontra-se vazio de conteúdo e Artemio, agindo de maneira totalmente contrária á sua fala, utiliza-o para convencer trabalhadores e aumentar seu prestígio.  A falta de programa ideológico é simbólica no trecho:
 “- Caramba, capitão, se vamos perder de qualquer maneira. Sou honesto. A divisão está desintegrada. (...) Estamos cansados. São muitos anos lutando, desde que nos levantamos contra Dom Porfirio. Depois lutamos contra Madero, depois contra os colorados de Orozco, depois contra os infelizes de Huerta, depois contra vocês, os capangas de Carranza. São muitos anos. Estamos cansados. Nossa gente é como as lagartixas, vai tomando a cor da terra, enfia-se nos barracos de onde saíram, tornam a vestir-se de peões e tornam a esperar a hora de continuar brigando, mesmo que seja daqui a cem anos.”[2]
 A Morte de Artemio Cruz, no entanto, vai além. Nosso protagonista personifica um desencanto e pessimismo de Carlos Fuentes em relação à Revolução Mexicana. Artemio Cruz foi um revolucionário, sem ideal, que soube aproveitar o imediato momento pós-revolucionário, ainda em caos, com o discurso ideológico da Revolução ao mesmo tempo em que fazia uso de artifícios capciosos, tomando em suas mãos o poder local e restaurando uma ordem oligárquica anterior á Revolução sustentada por Porfirio Díaz. Neste sentido, de um modo um tanto determinista, Artemio Cruz herda e repete a moral de sua família, os Menchaca: através de sua ânsia pelo poder, aliado a sua imoralidade, Cruz expande suas terras, assume o cargo político de deputado, possui um jornal pelo qual manipula informações, age como intermediário para interesses estrangeiros de exploração no México, faz uso de meios desonestos para manter a lealdade com outros caudilhos, entre outros. É esta a cara deste novo México pós-revolucionário:
“Artemio Cruz. Assim se chamava, então, o novo mundo surgido da guerra civil; assim se chamavam os que chegavam para substituí-lo. Desventurado país – disse para si mesmo o velho enquanto andava, outra vez de maneira pausada, para a biblioteca e essa presença indesejada mas fascinante -, desventurado país que a cada geração tem que destruir os antigos possuidores e substituí-los por novos donos, tão rapaces e ambiciosos como os anteriores.”[3]
Artemio Cruz representa então este novo México, que reinventa a ordem oligárquica porfirista atualizando-a para o século XX. Ele é a Revolução apropriada pelo poder corrupto e desfigurada. Talvez seja por isso que há tantas referências á frutas ao longo dos episódios revividos por Artemio Cruz. Seja no pomar que plantou em frente a sua casa, ás frutas escolhidas por Regina em algum povoado, aos nomes das frutas que existem no México que seu filho Lorenzo conta para uma moça na Espanha, ao mamão que Lunero reparte ao meio enquanto janta com Cruz ainda menino... São várias as referências ao longo do livro. Assim como uma fruta, tanto a Revolução quanto Artemio foram um dia cheio de vida, de sentido, mas foram bichados pela corrupção (especialmente nos momentos finais de Artemio, em que a descrição naturalista de seu problema gastrointestinal causa uma percepção de podridão):
“Lunero acendeu depois o braseiro para esquentar o picadinho de peixe, sobra do dia anterior; na cesta de frutas procurou, piscando os olhos, as cascas mais pretas para consumi-las logo, antes que a corrupção total, irmã da ferocidade, as amolecesse e bichasse.”[4]
            Carlos Fuentes explora os momentos finais de um velho moribundo, aproximando a morte cada vez mais de seu personagem. A relação entre a morte e os mexicanos é um tema bastante explorado por Octávio Paz em seu texto “Todos os Santos, Dia de Finados”. Para Paz, diante da morte há duas atitudes: encará-la como criação ou como regresso, expressando-se, este último, por um sentimento nostálgico. Artemio Cruz passa todos seus últimos momentos revivendo episódios do passado sob um ponto de vista moral e considerando outras escolhas que poderiam ter sido feitas e mudado sua vida. É uma nostalgia de tudo o que foi e do que poderia ter sido. Além disso, ao falar da morte para o poeta Villaurrutia, a vida (encarada como um sentimento nostálgico da morte) é vista como um meio de transição: origina-se da morte, que tem nas entranhas maternas a sua cova, e volta a ela quando chega o seu fim. Por isso que o último momento que Artemio Cruz revive em sua memória, o mesmo que atesta a sua morte, é aquela de seu nascimento.  Cruz procura, em seus momentos mais próximos da morte, encontrar o que a vida temporal não lhe deu: o sentido de sua vida.
            Aproximando o protagonista ao que foi e ao que deixou para o México a Revolução, nota-se um sentimento de profunda nostalgia a este momento tão crucial para a história dos mexicanos. Hoje, olhando para trás, é possível ver, ainda que de maneira confusa (como a própria memória e o fluxo de consciência de Artemio Cruz) os episódios que marcaram o início do século XX mexicano. Se o México pós-revolucionário deixou uma grande nostalgia do que foi a Revolução, hoje procura-se o sentido que ela deixou não só para o México em si, mas também para a América Latina, e julga-se, com muita facilidade, o que deveria ter sido feito ou não para que a Revolução tomasse outro curso e deixasse outras marcas na História. Mas esquece-se que, no momento, para aqueles que viviam a Revolução, os sentimentos eram outros e as suas escolhas, como as de Artemio, dependiam muito mais do momento imediato no qual viviam.
            Duas atitudes são possíveis de serem tomadas diante da morte, ou do fim, da Revolução Mexicana: encará-la como criação, para frente. Como podemos ver num partido que se assume como continuidade da Revolução e se mantém no poder hegemonicamente por anos. Ou também como regresso, ou nostalgia, como faz Carlos Fuentes em A Morte de Artemio Cruz: revivendo, criticando e procurando um sentido, de uma maneira bastante poética e desencantada, do que foi a Revolução Mexicana e a política mexicana pós-revolucionária.

Na imagem, Zapata, líder do exército do sul, de Diego Rivera. 

[1] PAZ, Octavio. “Todos os Santos, Dia de Finados”. O labirinto da solidão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 58
[2] FUENTES, Carlos. A morte de Artemio Cruz. Rio de Janeiro: Record / Altaya, s/d. (Col. Mestres da Literatura Contemporânea, 72), p. 140
[3] Ibidem, p. 39
[4] Ibidem, p. 11

Voltaire e a Imaginação Histórica


Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet, foi um importante filósofo do século XVIII que fez parte e marcou profundamente o pensamento Iluminista. Sua escrita é ácida, cheia de ironias, mas também é sua ferramenta de ataque à muitas instituições de sua época. Em “A Filosofia da História”, Voltaire transparece muito de seu pensamento a partir do que ele concebe como História. Apesar de ser comumente chamado de filósofo, isso acontece apenas por convenção, pois também possui obras de outros gêneros, como narrativa e textos de cunho histórico, como serão analisados com mais detalhes aqui. 

Um dos principais alvos da crítica Iluminista era a Igreja. Os pensadores iluministas defendiam a emancipação do individuo, que precisava se libertar das tutelas não só da Igreja, como também do Estado, e pensar por si próprio, livrando-se de fábulas, crendices, combatendo assim o preconceito e a superstição. Voltaire, como faz parte dessa época, não pensava diferente. Para ele, a História está permeada de fábulas que foram sendo criadas para explicar o passado, mas que estão muito distante da realidade, ao mesmo tempo em que seu compromisso é com a verdade. Em nenhum momento ele desvincula a História da escrita, a primeira depende da criação e do aprimoramento da segunda para existir, pois, segundo Voltaire, até a existência de homens que tivessem tempo e meios para registrar os acontecimentos, estes eram passados oralmente de geração em geração, perdendo assim o compromisso com a verdade e sendo permeada de fábulas e fatos inverossímeis. Por isso, dentro de seus vários exemplos, as referências à História Antiga são usadas muito mais como crítica aos autores contemporâneos – que ás vezes fazem uso da mitologia como relato verdadeiro da História - do que como método histórico, pois, quanto mais distante do tempo presente, menos compromisso a História tem com a verdade. 

Voltaire leva muito em conta o tempo que leva o progresso de uma civilização. Desta maneira, muito longo foi o tempo em que um determinado grupo de pessoas foi capaz de desenvolver a agricultura, a pecuária, a construção de casas e outros, para depois ser possível o desenvolvimento das artes e da escrita. As origens dos povos, portanto, constituem mitos, pois nas suas origens, esses grupos de homens estavam muito mais preocupados em aprender outras coisas das quais dependia sua sobrevivência do que a perpetuação da memória. 

A História, para Voltaire, tem este forte compromisso com a verdade, pois ela constitui um instrumento de educação moral. A ideia de História é bastante pragmática para nosso autor: o que deve ser registrado são os fatos extraordinários, tanto para o bem quanto para o mal, para que eles sirvam como exemplo do que deve ou não ser feito. Se ela tem um intuito moral, Voltaire reconhece que a História se aproxima da fábula, cujo objetivo também é a instrução moral, mas, a força retórica da primeira se sobressai, pois ela carrega em si a veracidade e se aproxima das capacidades do ser humano. Se somente o extraordinário merece ser registrado, o que não for moralmente útil torna-se fofoca e compõe o que Voltaire chama de História Satírica. Mais uma vez transparece o seu compromisso com a verdade, pois esta última categoria de História também não tem o cuidado de transparecer o verdadeiro, comprometendo-se com adulações ou sátiras, geralmente feitas por partidários políticos. Por isso a necessidade de se libertar não só das amarras religiosas, mas também políticas.

Outra obra que transparece muito do seu pensamento é “Cândido”, no qual, em forma de narrativa, Voltaire tece suas principais críticas à sociedade de sua época. O protagonista Cândido é educado por Pangloss, uma caricatura do filósofo do século XVII Leibniz, que acredita que vivemos no melhor dos mundos possíveis, pois foi criado por Deus, que é bom, poderoso e perfeito. Se existe o mal, é porque ele faz parte deste mundo perfeito e se há coisas que concebemos como imperfeitas, é porque nossa capacidade humana é incapaz de compreender a criação divina. Cândido, desta maneira, está sempre preso a essa educação moral que entra em constante choque com a realidade vivida pelo protagonista ao longo da narrativa, dado os inúmeros incidentes em que ele sempre se encontra. Essa educação que tende a formar pessoas cultas e instruídas, mas incapazes de pensar por si próprias e adquirirem um pensamento crítico diante da realidade é a principal crítica do livro.

Outra crítica bastante ácida que Voltaire faz ao longo da narrativa de Cândido é contra a instituição católica. Ele critica a dominação jesuítica na América denunciando o clero como corrupto e mundano. Além da relação que um Inquisidor-mor mantém com Cunegunda, a amada de Cândido, seu irmão também tem uma relação com um jesuíta que parece ser homossexual. A Igreja também é mostrada como supersticiosa e responsável pela condenação de gente inocente, como quando responsabiliza algumas pessoas, inclusive Cândido e seu mestre Pangloss, pelo terremoto de Lisboa e as condena à fogueira. 

A passagem de Cândido por Eldorado também é bastante emblemática. Lá, a moeda oficial é a libra esterlina: “Ficou pronta em quinze dias e não custou mais do que vinte milhões de libras esterlinas, moeda do país” (pag. 86). O Eldorado seria, então, uma referência à Inglaterra, que Voltaire admirava, pois, segundo ele, existiam lá mais de uma religião e elas viviam em tolerância umas com as outras e também fazia assim uma crítica mordaz ao absolutismo francês. Voltaire carrega em sua obra uma valorização do ideal burguês, ou seja, o enriquecimento através do trabalho, indo de encontro, portanto, ao ideal da nobreza. A última frase do livro: “- Está bem dito, responde Cândido, mas é preciso cultivar nosso jardim” (pag. 157) se refere a esse ideal burguês de valorização do trabalho, ao mesmo tempo em que o “jardim” pode ser interpretado como a existência e os acontecimentos futuros da vida de cada um. Não mais é o mais perfeito dos mundos onde impera a passividade, pois se é o melhor dos mundos, não há o que ser feito para melhorar o que se julga errado, mas o mundo em que é preciso cuidado com a realidade vivida. 

Vale mencionar ainda que para Voltaire o progresso está nas ciências e nas artes, portanto, bárbaros não são apenas os búlgaros que espancam Cândido e invadem e saqueiam o castelo de seu tio matando sua família, mas também os considerados “civilizados”. Em “Introdução ao Ensaio sobre os costumes” no capítulo VII “Dos selvagens”, Voltaire também chama de selvagem todos aqueles que se reúnem semanalmente numa igreja para ouvir as palavras do sacerdote de quem não entendem nada e que se alistam em exército para matar pessoas em guerra e ganhar um quarto do que poderiam ganhar trabalhando em casa. Ele completa dizendo que os selvagens da América são ainda superiores aos selvagens europeus, pois têm embaixadores e representantes que se comunicam com os europeus que lá chegam, além de outras características que Voltaire atribui como qualidades civilizadas. Voltaire critica, assim, como selvagens aqueles ainda ligados ás amarras e ás tutelas do Estado e da Igreja, incapazes de pensar criticamente por si próprios, mas capazes de contribuir com dízimos uma instituição cujos dizeres não compreendem e matar e morrer por um Estado Absolutista e uma nobreza com a qual não se identificam.

O pensamento de Voltaire é abrangente e complexo, muito ainda poderia se dizer sobre sua obra, mas em geral, Voltaire reflete o pensamento de sua época e mostra que havia uma percepção de História pragmática, como instrumento de instrução moral num contexto em que a educação emancipacionista era vista como forma de mudar e melhorar a realidade. 
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Trabalho que desenvolvi para a disciplina de Teoria da História I.

Saúde pública

- Oh Pangloss, gritou Cândido, eis uma estranha genealogia! Não seria o diabo o seu tronco?
- De modo algum, replicara o grande homem. Era uma coisa indispensável no melhor dos mundos, um ingrediente necessário. Pois se Colombo não houvesse contraído, numa ilha da América, esta doença que envenena a fonte da geração, que frequentemente impede a geração, e que é evidentemente o oposto da grande meta da natureza, não teríamos nem o chocolate nem a cochonilha. É preciso ainda observar que hoje, em nosso continente, esta doença nos é própria, como a controvérsia. [...]
- Eis o que é admirável, disse Cândido, mas é preciso curá-lo.
- E como posso fazê-lo?, disse Pangloss. Eu não tenho um tostão, meu amigo. E em toda a extensão deste globo, não podemos sofrer uma sangria nem fazer uma lavagem intestinal sem pagar ou sem que haja alguém que pague por nós. [...]
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Acesso ao serviço de saúde pública: um problema desde o século XVIII.