Anacronismo na história

Segundo Lucien Febvre, o pecado mortal do historiador é o anacronismo. Em parte, ele tem suas razões. O historiador, ao contar, relatar e analisar um determinado evento ou personagem histórico, não pode levar em consideração o que aconteceu depois; afinal, os agentes dequele momento não tinham em mente a sucessão de acontecimentos posteriores.

Por exemplo: o termo república com a conotação que conhecemos hoje, nunca pode ser usado para todo o século XIX, muito menos antes disso. Apesar da palavra já existir antes, é já quase no século XX que ela é o que sabemos; portanto, usá-la para explicar, por exemplo, as disputas políticas em Portugal com a queda da Monarquia, é anacronismo. Assim como colocar a corrente materialista em teorias e análises de pensadores que antecederam Marx.

Porém, o mais perigoso e inevitável anacronismo aparece quando tratamos da história de um país ou uma nação. Isso porque ela começa justamente quando nada existia. Tomemos por exemplo, a história do Brasil. Pedro Álvares Cabral nunca descobriu o Brasil. Nunca fez isso simplesmente porque o Brasil não existia. Antes da Independência, em 1822, estudamos a história da América Portuguesa, já que se tratava de uma extensão de terra de Portugal. Os habitantes deste território e, inclusive, seu "descobridor", não sabiam que séculos mais tarde, aquela terra que pensavam ser uma ilha, tornar-se-ia uma país independente.

O mesmo acontece com a história de outros países. Os franceses começam a estudar a própria história muito antes do reino Franco. O que se faz é limitar a área geográfica atual da nação e estudar a história de todo esse espaço como se fosse a mesma. Não podemos dizer que Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul tiveram uma história em comum e as causas e motivos para isso também devem também ser analisadas com carinho, talvez, em outro post.

10 comentários:

  1. ótimo post, gi !


    é... e o pior é que tem jornalista que se dá a besta e escreve livros de história sem ter a minima noção de alguns conceitos, como anacronismo =p

    ResponderExcluir
  2. É interessante esse conceito de anacronismo. Acho que sempre pensei a respeito, só sem saber que era um conceito existente e reconhecido (e estudado pelo visto). Vejo muito isso na literatura, aliás, quando, na verdade, só se pode estudar uma escola literária, de fato, porque se SABE o que aconteceu depois. Por isso chamamos uns de simbolistas, aí os parnasianos, os realistas, os românticos, etc. O que é até engraçado, considerand que temos os pós-modernistas. O que vem depois disso, eu me pergunto. haueaheheheha

    Quanto à minha prova de proficiêcia em japonês, ela foi feita pelo próprio governo japonês (por meio da Fundação Japão, que faz essa prova mundial). Mas não saiu caro, não. Cinquentinha e estamos combinados. E quanto a uma prova de inglês, eu até tenho vontade de fazer, só que é tudo tão caro que acabo desistindo. Talvez eu tenha que me esforçar mais.
    E em fevereiro vou fazer mais uma prova, dessa vz do próprio consulado. E depois ainda vou ter que conversar com o consul. Em japonês! Boa sorte pra mim, pq eu vou precisar. aheuauhehaheh
    Beijão e feliz ano novo!

    ResponderExcluir
  3. bela crítica!
    e quanto ao descobrimento de brasil, parece q existem evidências da vinda de Vicent Pizon antes de Pedro Alvares Cabral. ele teria chegado no que hoje conhecemos como porto do mucuripe, aqui em Fortaleza. tem até um bairro aki com o nome dele! hehe...

    ResponderExcluir
  4. Oi... isso, talvez pra mim o amor tb seja um refugio para acabar em parte com essa infelicidade, outra seria amigos verdadeiros... Sem isso, não dá para viver...


    Mas, vamos a teu post... olhe, engraçado como essa tarde de domingo tive a felicidade de ter uma boa conversa com uma professora de História, e falavamos justamente sobre história do Brasil, em suas várias épocas. Falavamos sobre o descobrimento do Brasil, que na verdade foi a invasão a esse nosso país, pois até onde se sabe, o Brasil já era habitado pelos índios. Acho que até tem pessoas estudando isso: Descobrimento ou Invasão?. Tal como o Thiago César falou logo acima,já houvi falar também sobre Vicent Pizon ter andado por aqui antes mesmo que de Pedro Alvares. Não sei, nem tudo que esses livros de história contam é, ao pé da letra, verdade.
    Mas, investigando um pouco mais a fundo, o significado de anacronismo é basicamente:

    1.Confusão de data quanto a acontecimentos ou pessoas.
    2.Fato ou atitude anacrônica.

    E vendo o significado de anacrônico diz o seguinte:

    1.Em que há anacronismo (1).
    2.Que está em desacordo com a moda, o uso, constituindo atraso em relação a eles.
    3.Avesso aos costumes atuais.

    Ou seja, o que posso entender disso é algo como que já foi feito, descoberto ou algo do tipo, e volta e meia aparece em outros cenários históricos como se fosse algo novo. Estou errada? Me corrija...

    ResponderExcluir
  5. Gi, primeiro vou comentar o caso do Descobrimento do Brasil. Veja bem, acho que você se confundiu aí, o "Descobrimento do Brasil" aconteceu porque Pedrão Cabral, muito amigo meu, chegou, disse que era de Portugal e os seus compatriotas colonizaram. Se a Independencia só aconteceu em 1822, isso é um detalhe que nao afeta o Descobrimento, pois antes da Independência já existia o Brasil, mas na condição de terra de Portugal. Pedrão não descobriu um país, e sim, terras.

    Quanto ao que o Thiago falou, há imprecisões sobre essa vinda de Pizon para cá. Uns dizem que foi no local descrito por Thiago, outros que foi em Canoa Quebrada, uma bela praia cearense.
    Mas a verdade é que pouco importa, afinal, ele não colonizou. E se for pra contar só quem chegou primeiro, então são os indíos, mas acho que o que conta mesmo é quem dominou, e isso foi o Pedrão! hehehehe

    beijos

    ResponderExcluir
  6. Eu realmente já pensei sobre isso, mas não de maneira científica e mais profunda. Eu só conversava com meus botões, pensando que o que descobriram foi o que viria a ser o Brasil. Além disso,acho que a diferença entre os primeiros habitantes destas terras e os portugueses é que estes últimos tornaram pública - e tinham motivos pra isso - a "descoberta".

    ResponderExcluir
  7. O tal do Pinzon ao que parece realmente pisou nessas terras antes sim. Mas isso não me comove muito, saber quem foi o primeiro a pisar, provavelmente nem tenha sido esse espanhol, acho que é espanhol. Quanto ao anacronismo, é interessante, acho que não tinha percebido esse "pecado" dos historiadores. Mas a análise com carinho me parece mais interessante. História com carinho, sempre.

    ResponderExcluir
  8. Essa questão do anacronismo é de extrema importância e responsabilidade...cansamos de ouvir em bastidores escolares que trabalhar com a História é fácil...aí ferrou....quando vou ausentar peço para que o professor substituo( que normalmente não é da área) trabalhe com o que ele é formado....deixe a História pra mim....até porque é humanamente impossível trabalhar todo o conteúdo histórico....mas se ele cometer um erro de anacronismo será difícil recuperar esse dano.

    ResponderExcluir
  9. E olha que nós mesmos da área podemos cair nesses erros de anacronismo...imagina que não é.

    ResponderExcluir